Impacto pra quem? Pra qual setor? Qual a contribuição efetiva disso para o bem da humanidade? Pesquisa-se, com financiamento público, o que dá publicação e não o que realmente interessa ao setor produtivo. É explícito que a linguagem utilizada nos artigos é toda voltada para outro pesquisador ler. Até porque somente o seleto grupo de pesquisadores renomados publica nas tais revistas de alto impacto, as quais são fechadas à grande parte da sociedade. Há exceções? Sim, é fato que há. Poucas, mas tem.
Do que adianta ter uma vasta lista de publicações científicas se o setor produtivo desconhece a importância dos achados científicos de determinado pesquisador? No caso da produção de organismos aquáticos, se a Peixe BR, a ABCC ou a Peixe SP nunca ouviram falar ou desconhecem as efetivas contribuições que um pesquisador renomado no meio acadêmico tem deixado ao setor, algo de errado tem. Ou será que estas entidades não têm condições de julgar quais são as reais demandas do setor produtivo?
“-Ah, mas é que eu faço pesquisa de base.” Ou então a clássica frase: “-A sociedade não valoriza, não reconhece a importância da pesquisa científica.” Desculpas esfarrapadas! Não é obrigação da sociedade entender a complexidade de uma pesquisa de base e muito menos interpretar o linguajar científico. Quem tem obrigação de comunicar-se com a sociedade é o pesquisador! Até porque é a sociedade quem banca este profissional. E não só por isto. O ser estudado e que se considera “evoluído” perante o resto da sociedade é o pesquisador. Então é obrigação dele se comunicar com a sociedade.
Quer mais um absurdo? Os salários dos pesquisadores e professores são pagos pela sociedade, as pesquisas são financiadas com dinheiro público e os melhores resultados são publicados em revistas fechadas, que cobram cifras consideráveis para permitir acesso aos artigos. Ou seja, a sociedade que bancou a realização destas pesquisas simplesmente não tem acesso livre àquilo que financiou. Afinal, pesquisa-se pra quem?
Isto configura-se numa clássica situação de aprisionamento de conhecimento! Conhecimento tem que ser disponibilizado e não aprisionado. Mas qualquer cidadão pode ir até uma biblioteca universitária e acessar estes artigos? Sim, mas esta biblioteca utilizou recursos públicos para ter direito a este acesso. Além do mais, em tempos modernos, o cidadão comum deveria ter o livre direito de acessar isto pela internet.
Se por questões científicas este modelo e esta estrutura devem ser mantidos, tudo bem. Mas o conhecimento gerado precisa, de alguma forma, ser disponibilizado à sociedade. Ou seja, deveria ser obrigação do pesquisador comunicar-se não somente com seu seleto grupo de colegas por meio de artigos científicos, mas também com o cidadão comum, através de uma linguagem simples e compreensível ao setor produtivo. Ou, melhor ainda, transformando os achados científicos em soluções perante as demandas do setor produtivo. Afinal, é este quem banca os salários e as pesquisas.
Porém, a questão é que não há interesse por parte dos pesquisadores que a sociedade saiba e tenha conhecimento do que efetivamente ele está pesquisando. Afinal, ele pesquisa o que dá publicação e não exatamente para atender às demandas da sociedade. Ao tornar público o que realmente pesquisam, permitirá que a sociedade conclua que em torno de 70% do que foi publicado não serviu para absolutamente nada.
As pesquisas deveriam ter como premissa o atendimento de demandas do setor produtivo. A partir disso, o pesquisador é que teria que se virar nos 30 para encontrar o que dá publicação — e não o contrário. Atualmente, pesquisa-se o que dá publicação e o setor produtivo é que se vire para encontrar alguma utilidade naquilo que foi publicado. Há exceções? Sim, há! Mas regra geral é procurar um delineamento ou um assunto que simplesmente dê publicação.
Por muito tempo o setor produtivo aguardava ansiosamente por soluções tecnológicas vindas da academia. Porém, os tempos são outros. Atualmente é gritante o descompasso entre academia e setor produtivo. Simplesmente as coisas se inverteram, já que é notória a quantidade de novas tecnologias que partem da iniciativa privada. Quer uma constatação prática? A edição deste ano da AquiShow, em parceria com as revistas Aquaculture Brasil e Seafood Brasil, lançou o Prêmio Inovação Aquícola. De todos os cases inscritos, 66% são iniciativas do setor privado. Será que os pesquisadores estão tão ocupados com suas pesquisas que não tiveram tempo para inscrever seus cases, ou é a iniciativa privada a grande responsável pelas novas tecnologias junto ao setor produtivo?
No caso específico da produção de organismos aquáticos, o setor produtivo tem meia culpa nisso. Atualmente já temos associações e entidades devidamente respaldadas e com autonomia para cobrar maior objetividade e aplicabilidade dos trabalhos científicos.
“-Mas Fábio, você como pesquisador científico está jogando contra seus colegas?” Não, muito pelo contrário! Contra fatos não há argumentos. É urgente a necessidade de se reinventar o modo de fazer pesquisa, bem como a postura do pesquisador perante a sociedade. Afinal, o ser estudado, titulado e, portanto, flexível a mudanças é o pesquisador. Pelo contrário, seus cargos não durarão por muito tempo.










