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    Aminas biogênicas no pescado: o que devemos saber?

    Nos últimos anos, a segurança e a qualidade dos alimentos passaram a ser questões prioritárias de saúde pública, motivadas tanto pela maior conscientização dos consumidores quanto pela globalização dos mercados alimentares. O pescado, que representa uma parte significativa da dieta humana ao redor do mundo, é particularmente suscetível a problemas de qualidade e segurança devido à sua natureza perecível e vulnerabilidade à contaminação microbiana. Dentre os diversos riscos químicos associados ao pescado, as aminas biogênicas (AB) se destacam pelo seu potencial de causar efeitos adversos à saúde e por servirem como indicadores de deterioração dos alimentos.Aminas biogênicas são bases orgânicas de baixo peso molecular formadas pela descarboxilação de aminoácidos através da ação enzimática de microrganismos. Esse processo pode ocorrer durante o processamento, armazenamento e fermentação de alimentos. No pescado, as aminas biogênicas são formadas principalmente devido à atividade bacteriana, que é influenciada por diversos fatores, como temperatura, pH, teor de sal, e disponibilidade de oxigênio. As aminas biogênicas mais comumente encontradas incluem histamina, tiramina, putrescina e cadaverina, e são frequentemente utilizadas como indicadores de frescor e deterioração do pescado. Sua presença em níveis elevados pode representar sérios riscos à saúde dos consumidores, tornando o estudo de sua formação, tipos e métodos de controle fundamental para a segurança alimentar.A histamina, frequentemente associada à intoxicação por peixes escombrídeos, é uma das aminas biogênicas mais tóxicas. Ela se forma predominantemente em peixes da família Scombridae, como atum e cavala. O consumo de peixes contaminados com histamina pode levar à intoxicação, caracterizada por sintomas como vermelhidão na pele, dores de cabeça, náuseas, vômitos e, em casos graves, distúrbios cardiovasculares. A tiramina, outra amina biogênica significativa, pode causar crises hipertensivas em indivíduos suscetíveis, especialmente aqueles que estão usando inibidores da monoamina oxidase (IMAO). Embora a putrescina e a cadaverina não sejam diretamente tóxicas, elas podem potencializar os efeitos da histamina e são frequentemente usadas como indicadores de deterioração microbiana.

    Microrganismos produtores de aminas biogênicas

    • Enterobacteriaceae: inclui gêneros como Enterobacter, Klebsiella e Escherichia, que produzem quantidades significativas de histamina, putrescina e cadaverina.
    • Lactobacillaceae: bactérias ácido-láticas (LAB), particularmente espécies de Lactobacillus e Pediococcus, podem descarboxilar aminoácidos, levando à produção de tiramina e outras aminas biogênicas.
    • Pseudomonadaceae: espécies de Pseudomonas, bactérias psicotrópicas que crescem em baixas temperaturas, contribuem para a formação de putrescina e cadaverina no pescado refrigerado.

    Fatores que influenciam a formação de AB

    • Temperatura: acima de 15°C há aumento significativo da formação de histamina; refrigeração adequada (abaixo de 4°C) é essencial.
    • pH: condições neutras a ligeiramente alcalinas (6–8) favorecem a produção de AB.
    • Concentração de sal: altas concentrações podem inibir certas bactérias, mas algumas halotolerantes ainda produzem AB.
    • Disponibilidade de oxigênio: pode favorecer diferentes vias metabólicas, influenciando o tipo e quantidade de AB produzidas.

    Avanços em biologia molecular e genômica identificaram genes específicos responsáveis pela produção de AB, como o gene da histidina descarboxilase (hdcA) em Morganella morganii, amplamente estudado por seu papel na produção de histamina.

    Estratégias de mitigação

    • Gestão da cadeia do frio: manter resfriamento contínuo do momento da captura ao consumo.
    • Processamento higiênico: uso de boas práticas de fabricação (BPF) e APPCC.
    • Uso de aditivos: ácidos orgânicos, como ácido lático e ácido acético, ajudam a inibir bactérias produtoras de AB.
    • Culturas starters: uso de cepas não produtoras de AB em produtos fermentados.

    Os níveis de histamina acima de 50 mg/kg no pescado já são preocupantes, e acima de 500 mg/kg estão associados a intoxicações severas. A União Europeia e o Mercosul (incluindo o Brasil) estabeleceram limites de 100 mg/kg no tecido muscular, exigindo monitoramento regular para segurança do consumidor.

    Portanto, as aminas biogênicas são críticas em termos de qualidade e segurança do pescado. Controlar sua formação e manter níveis dentro dos limites legais é essencial. Condições adequadas de higiene e temperatura, junto com pesquisas contínuas e conscientização dos consumidores, são fundamentais para minimizar os riscos.

    Referência: Ucar Y, Ozogul F. (2024). Biogenic amines in seafood. Food Bulletin, 3(1), 9-15. https://doi.org/10.61326/foodb.v3i1.258

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