O estudo quantificou um composto ativo presente em detergentes no sedimento e avaliou seus efeitos nas ostras-do-Pacífico (Magallana gigas) com o intuito de propor um sistema de monitoramento mais eficaz e sensível para a maricultura local. As análises químicas detectaram altos níveis de alquilbenzeno lineares (ABLs), um indicador químico da presença de esgoto, no sedimento de duas fazendas localizadas próximas ao continente. A investigação também avaliou os biomarcadores bioquímicos, ou seja, as alterações nas enzimas do sistema de defesa antioxidante nas brânquias e glândula digestiva das ostras. Esses biomarcadores funcionam como ferramentas de alerta precoce ao impacto dos poluentes nos organismos.
Por que importa
Os ABLs e o coprostanol sinalizam a existência de esgoto nas águas das baías Norte e Sul de Florianópolis. Em um dos locais de cultivo situado perto do continente e em outro próximo á ilha, foi detectado coprostanol no sedimento, reforçando o alerta. A presença desses marcadores sugere um possível risco ambiental para a maricultura catarinense.
Como foi feito
A equipe quantificou ABLs no sedimento e mediu as enzimas de defesa: catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx) e superóxido dismutase (SOD), além de outras enzimas, nas brânquias e glândula digestiva das ostras coletadas. Essas enzimas atuam na defesa celular das ostras contra as espécies reativas de oxigênio (EROs). Embora as EROs sejam produzidas naturalmente em pequenas quantidades pelas células, sua produção aumenta significativamente quando as ostras são expostas a poluentes, como os encontrados no esgoto.
Resultados-chave
Os ABLs foram detectados nas amostras de sedimento de todas as áreas de cultivo, sendo os maiores valores no sedimento de Imaruim e Serraria. O local da Caieira teve níveis abaixo dos limites de quantificação (0,05 ng.g-1)
As respostas dos biomarcadores bioquímicos foram consistentes na glândula digestiva, mostrando aumentos significativos nas enzimas de defesa antioxidante nas ostras de Serraria.
Houve uma correlação positiva entre os níveis de ABLs no sedimento e a presença de coliformes termotolerantes presentes na água, confirmando presença de esgoto sanitário nas áreas de cultivo.
Desafios e perspectivas futuras
A respostas dos biomarcadores variou entre as áreas de cultivo e os tecidos, e nem todos os parâmetros físico-químicos explicaram essas diferenças. Isso indica a necessidade de avaliar series temporais mais longas. Ainda assim, o padrão geral e a consistência dos resultados apoiam o uso dos biomarcadores para a vigilância e monitoramento ambiental em áreas aquícolas. Os autores da pesquisa recomendam a utilização rotineira dos biomarcadores e consideram implementar processos de depuração das ostras antes da venda, especialmente em locais de cultivo próximos com zonas urbanizadas. O estudo busca proteger a saúde do consumidor e melhorar a produção sustentável da maricultura catarinense.
