Um estudo recente mostra que lixiviados de lixo eletrônico, provenientes de aparelhos como celulares, laptops e televisores, causam alterações hormonais e danos nos tecidos de carpas-capim (Ctenopharyngodon idella) expostas por 28 dias a concentrações ambientalmente relevantes de 0,2, 0,5, 2 e 3 mg/L.
Os pesquisadores observaram reduções proporcionais à dose nos hormônios sexuais e da tireoide, como testosterona, 17β-estradiol, tiroxina (T4) e triiodotironina (T3). Também registraram diminuição de proteínas totais no sangue. Em paralelo, houve aumento das enzimas hepáticas alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e fosfatase alcalina (ALP), além de elevação nos níveis de colesterol e glicose, indicadores de estresse fisiológico e possível lesão no fígado.
A equipe encontrou ainda alterações microscópicas em rins e fígado, com sinais de dano celular e perda da integridade dos tecidos. Esses resultados reforçam o potencial tóxico do lixiviado de lixo eletrônico para peixes e para a saúde dos ecossistemas aquáticos.Para avaliar o risco, os cientistas realizaram simulações de Monte Carlo, técnica estatística usada para estimar incertezas, que confirmaram as alterações fisiológicas observadas após a exposição.O estudo descreve a preparação do lixiviado a partir de placas de circuito, telas de cristal líquido e baterias de íon-lítio, além da caracterização química que identificou metais pesados, retardantes de chama do grupo polibromodifenil éteres (PBDEs), ftalatos e bisfenol-A. O experimento foi conduzido com peixes sub-adultos mantidos em tanques e amostrados ao longo de quatro semanas.

Segundo os autores, os resultados demonstram uma toxicidade associada ao estresse fisiológico e reforçam a necessidade urgente de uma gestão adequada do lixo eletrônico para proteger ambientes aquáticos e a saúde pública.
Os autores concluem que a exposição crônica, mesmo em níveis subletais, compromete o equilíbrio hormonal e o metabolismo de espécies cultivadas como a carpa-capim, peixe de interesse para a aquicultura, e destacam a necessidade de reduzir a liberação de contaminantes provenientes do lixo eletrônico.