Os peixes aceitaram bem todas as dietas, tiveram mortalidade muito baixa (cerca de 1%) e aumentaram o peso inicial em aproximadamente cinco vezes, sem diferenças significativas em crescimento ou uso da ração entre os tratamentos. A arquitetura dos tecidos do intestino anterior e do reto permaneceu preservada em todos os grupos, sem sinais de lesão ou inflamação evidente, indicando que a inclusão de farinha de poliqueta não comprometeu a integridade intestinal.
Na mucosa intestinal, a farinha de poliqueta modulou a presença de células de defesa. No intestino anterior, a dieta PM10 reduziu significativamente a presença de granulócitos na lâmina própria, enquanto no reto as dietas PM2.5 e PM10 diminuíram o número de linfócitos, sugerindo menor infiltração de leucócitos em comparação à dieta apenas com farinha de peixe. Os autores interpretam essa redução como uma possível atenuação de ativação imune local em situação de boa saúde, e não como perda de proteção.
O estudo também avaliou biomarcadores de estresse, como glicose, lactato e cortisol plasmáticos, antes e depois de um protocolo de confinamento que simula manejo intensivo. O estresse aumentou esses marcadores em todos os tratamentos, sem efeito claro da farinha de poliqueta sobre o pico de cortisol, mostrando que todas as dietas geraram resposta fisiológica semelhante ao desafio. Entretanto, independentemente do estresse, a dieta PM2.5 elevou o lactato no sangue, enquanto a PM10 aumentou a glicose, indicando ajustes metabólicos associados aos diferentes níveis de inclusão do ingrediente.
No sistema imune humoral, a dieta PM5 se destacou ao aumentar significativamente a atividade do complemento (ACH50) e os níveis de imunoglobulinas plasmáticas, tanto em peixes estressados como não estressados. Esses resultados apontam para uma resposta imune sistêmica mais eficiente, potencialmente associada ao maior conteúdo de glutationa e compostos bioativos presentes na farinha de poliqueta.
A análise do fígado mostrou que o estresse elevou globalmente a atividade de enzimas antioxidantes, como catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD), glutationa redutase (GR) e glutationa S-transferase (GST), em todos os grupos. Nos peixes não estressados alimentados com PM2.5 e PM5, houve aumento de GR, GST, glutationa reduzida (GSH) e glutationa total (tGSH), sugerindo maior capacidade antioxidante basal em comparação à dieta controle.
De forma geral, a inclusão de 2,5% a 10% de farinha de poliqueta em rações para robalo-europeu não alterou desempenho zootécnico, mas trouxe benefícios para a saúde intestinal, a imunidade e o equilíbrio oxidativo, sobretudo na dieta PM5. Os autores indicam a farinha de poliqueta como alternativa promissora à farinha de peixe de alta qualidade em dietas funcionais, com potencial para melhorar bem-estar e resiliência dos peixes em sistemas intensivos de aquicultura.










