Um estudo realizado por instituições do Amazonas mostrou o potencial das escamas de tambaqui (Colossoma macropomum) e pirarucu (Arapaima gigas), geralmente tratadas como resíduo de baixo valor, como matéria-prima eficiente para extração de colágeno tipo I, com aplicações em alimentos, cosméticos e biomedicina. A pesquisa utilizou o método de colágeno solúvel em ácido (ASC), considerado mais sustentável por preservar melhor a estrutura da proteína e gerar menos resíduos químicos.
Foram avaliados dois tipos de amostras para cada espécie: escamas inteiras (T1) e escamas trituradas (T2). No tambaqui, T1 apresentou 47,71% de umidade, 41,04% de proteína, 1,39% de lipídios e 9,77% de cinzas, enquanto T2 mostrou proteína de 72,95% e umidade de 12,63%. No pirarucu, as escamas T1 registraram 28,54% de umidade, 28,80% de cinzas, 1,06% de lipídios e 31,63% de proteína; em T2, os valores foram de 10,85% de umidade, 17,18% de cinzas, 0,20% de lipídios e 48,40% de proteína.
Os rendimentos de extração variaram com a espécie e o processamento. No tambaqui, T1 rendeu 2,97% e T2 rendeu 1,51%; no pirarucu, T1 alcançou 1,48% e T2, 0,85%. Apesar do maior teor proteico após trituração, a preservação da estrutura das escamas favoreceu a recuperação de mais colágeno, reforçando a importância do processamento adequado.
Análises de FTIR e DRX confirmaram a predominância de colágeno tipo I nas duas espécies. Os difratogramas de tambaqui foram semelhantes aos de colágeno bovino comercial, com picos característicos da tripla hélice e da organização cristalina. No pirarucu, os padrões também foram compatíveis com colágeno tipo I, com diferenças relacionadas à presença de hidroxiapatita mineral nas escamas.
O estudo destaca vantagens do colágeno de origem aquática, como ausência de risco de transmissão de doenças típicas de mamíferos e menor conflito com restrições religiosas. O grande volume de pescado e subprodutos no Brasil, especialmente no Amazonas, torna o aproveitamento das escamas estratégico para agregar valor e reduzir impactos ambientais.
Ao demonstrar que o método ASC mantém a integridade estrutural do colágeno e possibilita rendimentos significativos, o estudo reforça o potencial das escamas de tambaqui e pirarucu como fontes sustentáveis de biomoléculas de alto valor agregado.










