Filtro solar comum nas praias libera benzofenona-3, que se acumula em ostras e altera sua biologia.
Pesquisadores do Laboratório de Biomarcadores de Contaminação Aquática e Imunoquímica (LABCAI), do Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM) e do Laboratório de Eletroforese Capilar e Cromatografia (LABECC) da Universidade Federal de Santa Catarina, investigaram como a benzofenona-3 (BP-3) afeta a saúde ostras-do-Pacífico (Crassostrea gigas). A BP-3 é um tipo de filtro ultravioleta orgânico comum em protetores solares e outros produtos de higiene pessoal. O estudo analisou a expressão de genes do sistema de defesa antioxidante, do sistema de biotransformação e a receptores nucleares nas brânquias, além do verificar o acúmulo deste composto no tecido das ostras.
O que foi feito
Ostras foram expostas a concentrações do BP-3 similares às encontradas em áreas costeiras (1 e 100 µg.L-1) em condições controladas de laboratório, por um período de 1 e 7 dias. Foram realizadas análises químicas na água do experimento para confirmar as concentrações e no tecido das ostras para comprovar o acumulo do composto.Os filtros UV, principais componentes dos protetores solares, estão sendo detectados nos ecossistemas marinhos-costeiros, porém, não sabemos que efeitos podem causar nas ostras.
Porque importa
A BP-3 é um filtro UV presente em cosméticos e outros produtos de higiene e cuidado pessoal que pode chegar às zonas costeiras. Em organismos filtradores como as ostras, o contato continuo com essa substância pode alterar processos fisiológicos importantes. A pesquisa utilizou biomarcadores moleculares, que são ferramentas muito sensíveis e funcionam como ¨alerta precoce¨ para o estresse químico provocado pelos contaminantes nos organismos.
Principais achados
A maior concentração de BP-3 no tecido mole das ostras ocorreu após 7 dias de exposição e, as concentrações de BP-3 na água do experimento foram muito próximas às concentrações nominais testadas.
Houve uma ativação significativa dos genes envolvidos no sistema de defesa antioxidante e biotransformação, indicando que as células das brânquias das ostras ativaram mecanismos de proteção. Além disso, foram observadas mudanças na atividade de genes de receptores nucleares envolvidos em processos endócrinos, o que sugere possíveis alterações na reprodução das ostras.
Grupo de ostras sendo expostas ao filtro UV Benzofenona-3 de maneira individual em béqueres de 1 litro com areação constante. (Foto: Dra. Mariana Rangel Pilotto)
Como interpretar
Sinais de alerta precoce de estresse oxidativo e de biotransformação, juntamente com as alterações nos receptores nucleares, apareceram após 24 horas de exposição. Isso significa que as brânquias das ostras ativaram defesas antioxidantes e de detoxificação e, ao mesmo tempo, mostraram possíveis mudanças no sistema endócrino. Tais mudanças podem afetar a respiração, filtração e reprodução, ou seja, parâmetros zootécnicos importantes para a espécie, caso a exposição se mantenha por um longo período.
Perspectivas futuras
Os autores destacam que a benzofenona-3 em níveis encontrados perto das áreas costeiras, alterou a expressão de alguns genes nas brânquias das ostras. Eles reforçam a necessidade de melhorar os sistemas de tratamento de águas residuais para reduzir a entrada desses compostos em águas usadas pela maricultura.