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    O Fantástico mundo das bactérias

    Embora não possamos enxergar, bactérias estão presentes em todos os lugares. Figuram uma das formas de vida mais primitivas da terra e ainda assim possuem uma eficiente capacidade de se adaptar e multiplicar, seja no ar, no solo, na água, superfície e interior de plantas e animais ou mesmo em habitats com condições inóspitas à maioria dos seres vivos como fontes termais ácidas, resíduos radioativos, profundezas da crosta da terra, fundo dos oceanos e espaço.Há milhares de tipos, sendo classificadas de acordo com sua forma, coloração, necessidade de oxigênio e composição genética. Apesar de serem comumente associadas a doenças elas nem sempre são vilãs, há bactérias de suma importância ecológica e econômica. Para exemplificar sua utilidade posso citar o tratamento de esgotos domésticos ou industriais, produção e conservação de alimentos e bebidas (vinho, iogurte, queijo), ou sua atuação no controle de pragas em culturas agrícolas ou como biofertilizantes. Possuem ainda um papel vital na ciclagem dos nutrientes promovendo a decomposição.
    Até aqui compreendemos o quão as bactérias são versáteis e necessárias a vida humana, vegetal e animal, por meio de interação benéfica, e até mesmo simbiótica. Mas apesar de formarem a microbiota comensal sem causar nenhum dano e até auxiliarem o metabolismo, sabemos que também há espécies patogênicas que causam doenças infecciosas ao produzirem substâncias nocivas.Nas próximas linhas focaremos nos problemas gerados por bactérias patogênicas na aquicultura, uma das principais problemáticas na produção animal, que gera grande impacto econômico. Em condições comerciais de cultivo o adensamento é inevitável. Somado a dinâmica dos fatores ambientais como temperatura, oxigênio e manejos, geram estresse ao qual os organismos aquáticos cultivados são expostos a durante todo o ciclo produtivo. A resposta ao estresse é variada e tem relação com o agente estressor, fase de vida do animal e espécie cultivada, essa condição crônica impacta o sistema imune e auxilia na disseminação da patogênese.
    Não podemos ignorar que certas bactérias trabalham de forma mais eficiente em grupo. Um dos resultados dessa ação em conjunto é a formação de biofilme, que age como uma verdadeira “armadura” auxiliando a disseminação de enfermidades bacterianas. Formado por uma capa pegajosa de matriz polimérica, o biofilme bacteriano além de mecanismo de proteção, potencializa a comunicação das bactérias e a disponibilidade de nutrientes, as protege de estresses ambientais e do sistema de defesa dos hospedeiros, ajudam no “ataque”, além de gerar insensibilidade a antibióticos promovendo infecções persistentes e recorrentes. Há literatura que demonstra a associação do biofilme à persistência de S. agalactiae e o desenvolvimento de meningoencefalite crônica em peixes, mostrando a importância de agir sistematicamente e não focar apenas no trato gastrointestinal. Outras bactérias que formam biofilme são: Francisella sp., Aeromonas sp., Edwarsiella sp., Lactococcus sp. e Vibrio sp..Nos peixes, a adesão eficiente das bactérias é um pré-requisito para uma infecção bem-sucedida. Através dessa adesão, as toxinas bacterianas são introduzidas no hospedeiro. A ciência necessita de maior compreensão sobre os fatores de virulência de patógenos no ambiente aquático, aparentemente precisaremos de uma abordagem integrada considerando patógeno, hospedeiro e ambiente para potencializar a saúde dos animais aquáticos.

    Comumente, as infecções bacterianas são tratadas através da utilização de alimento suplementado com antibiótico. Estes medicamentos podem ser classificados em bactericidas, se matarem as células bacterianas, ou bacteriostáticos, se apenas prevenirem o crescimento bacteriano (como a oxitetraciclina e o florfenicol). É importante ainda se certificar de utilizar medicamentos registrados para uso em aquicultura em caso de surtos, que idealmente devem ser diagnosticados, atentando ainda a respeitar dosagens e período de tratamento visando assegurar a segurança do produto final para o consumo humano, sustentabilidade ambiental e consequentemente sustentabilidade da produção.

    A resistência aos antimicrobianos (RAM) atualmente é um dos maiores desafios para a saúde pública, os especialistas têm trabalhado a abordagem de Saúde Única que considera a saúde humana, animal e ambiental. Quanto maior a frequência de uso de antibióticos maior será a probabilidade do desenvolvimento de bactérias resistentes, essa não é uma ferramenta a ser utilizada de forma rotineira nem preventiva.

    Algumas bactérias são naturalmente resistentes, e outras podem adquirir resistência determinados antibióticos por meio da troca de material genético com cepas resistentes ou mutação genética. Os genes de resistência podem ser herdados pelas gerações seguintes e até mesmo compartilhado com outras espécies de bactérias.

    O uso de antibióticos na ausência de uma infecção bacteriana contribui diretamente para o surgimento de bactérias resistentes que podem se disseminar de maneira rápida, inclusive, de animais para as pessoas. O monitoramento do uso de medicamentos na aquicultura é uma realidade a qual teremos que nos adaptar, assim como a diminuição do uso de antimicrobianos em produção animal tem sido uma tendência visando redução do risco de consumo bactérias resistentes e exposição a antibióticos via consumo produtos alimentares de origem animal, e infecção por bactérias resistentes através de contato com animais de produção.

    Em visita recente ao Chile pude conhecer produções de formas jovens e engorda de salmão e participar do congresso Sustainable Management of Bacterial Disease in Aquaculture (Gestão Sustentável de Doenças Bacterianas na Aquicultura: uma Abordagem Interdisciplinar), que ocorreu em Puerto Varas – Chile, e abordou os desafios de sustentabilidade associados ao uso de antibióticos na aquicultura. Para além das discussões sobre segurança alimentar, ressaltar os riscos do uso indiscriminado de antimicrobianos e da RAM, e a problemática do impacto ambiental gerado, devemos lembrar ainda que há ainda após exposição a antimicrobianos geralmente percebemos redução do desempenho zootécnico ou sobrevivências abaixo do esperado, e tudo isso tem um preço que na maioria das vezes não é contabilizado.

    Quanto o produtor está deixando de ganhar? Não devemos normalizar as perdas. Sobrevivências de fases iniciais entre 60-80% não são um resultado eficiente, por exemplo, é só fazer a conta do que estamos deixando de ganhar durante todo o ciclo ou mesmo comparar com outras culturas como a salmonicultura ou mesmo a avicultura nas mesmas fases de produção. A problemática se acentua se considerarmos a imprevisibilidade de produção devido a resultados aleatórios de sobrevivência, falhas na imunização quando os animais já apresentarem um sistema imune debilitado ou infecções recorrentes com problemas virais associados.

    No caso das doenças de origem bacterianas a prevenção sempre será o melhor remédio! As bactérias não tiram férias, proteja seus peixes ou camarões de forma preventiva com um bom programa de saúde. O uso de aditivos alimentares para prevenir a adesão de bactérias e a formação de biofilme e reforçar o sistema imune são uma ferramenta e tanto. Sem essa “capa” protetora as bactérias patogênicas tornam-se suscetíveis às células imunes, reduzindo surtos e a necessidade do uso de antibióticos. Aliado a boas práticas de manejo (aqui acho pertinente enfatizar limpeza e desinfecção de estruturas de produção) e imunização dos peixes, resultarão em maior rentabilidade na produção.

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