No oceano pode estar uma das respostas mais promissoras para diferentes desafios do nosso tempo. As algas marinhas, diversas e abundantes, estão deixando de ser coadjuvantes para assumir o papel de protagonistas em uma nova economia baseada em inovação, sustentabilidade e impacto positivo. Já não são apenas parte da culinária asiática: hoje, alimentam pesquisas e cadeias produtivas que vão da ração animal aos bioplásticos, passando por tecidos inovadores, cosméticos naturais e até biomateriais para a construção civil.
E o Brasil? Com mais de 7 mil quilômetros de costa e uma biodiversidade marinha única, temos todas as condições para liderar essa transformação. Nossa economia costeira concentra tanto biodiversidade quanto potencial produtivo, o que amplia a relevância estratégica da atividade. Dentro desse contexto, a economia azul aparece como um caminho inevitável — não apenas estratégico, mas capaz de gerar riqueza e empregos sem comprometer o equilíbrio dos ecossistemas marinhos. Afinal, por que escolher entre desenvolvimento e preservação, se podemos ter os dois?
Dentro desse universo, a biotecnologia marinha desponta como uma das áreas mais vibrantes. E, entre tantas possibilidades, as algas se destacam pela versatilidade impressionante. Elas são fonte de biomassa renovável para múltiplos setores, podem substituir insumos poluentes, abrir novos mercados e ainda atuar na captura de carbono e na proteção da biodiversidade. O Banco Mundial reforça esse cenário em seu relatório Global Seaweed: New and Emerging Markets Report (2023): no curto prazo, já há espaço para bioestimulantes agrícolas, ração animal e pet food; no médio prazo, entram os nutracêuticos, as proteínas alternativas, os bioplásticos e os tecidos; e, a longo prazo, setores de altíssimo valor, como o farmacêutico e o da construção civil.
Isso mostra que não estamos diante de uma ideia distante ou experimental, mas de oportunidades concretas, já mapeadas e com demanda crescente. Agora, imagine: comunidades costeiras brasileiras fornecendo algas para bioplásticos que substituem embalagens descartáveis; cooperativas locais produzindo biomassa para cadeias globais de nutrição animal; ou mesmo empresas nacionais transformando algas em alimentos funcionais e nutracêuticos capazes de melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. Esse futuro não é distante — já está em construção.
Nesse cenário, a aquicultura é a chave para destravar todo esse potencial biotecnológico, principalmente para mercados que exigem uma biomassa mais pura, como alimentos e fármacos. Cultivar algas de forma sustentável garante qualidade, escala e padronização, ao mesmo tempo que gera emprego e renda para comunidades tradicionais. Ao contrário de muitas indústrias extrativas, aqui falamos de uma atividade regenerativa: quanto mais cultivamos, mais fortalecemos a resiliência ambiental e social. É desenvolvimento que soma, multiplica e regenera.
Os desafios, claro, não desaparecem. Mas, diante da dimensão das oportunidades, eles se tornam pequenos. O que está em jogo não é apenas a criação de um “novo” setor econômico, mas a chance de o Brasil se posicionar como líder na economia azul, na biotecnologia e no impacto socioambiental.
Se o futuro da bioeconomia azul já começou, as algas estão prontas para conduzir essa história. Cabe a nós transformar esse potencial em realidade. A pergunta é: estamos preparados para mergulhar e desbravar esse mar de oportunidades?