Brincadeiras à parte, a piscicultura brasileira vem crescendo exponencialmente, ganhando cada vez mais destaque em relação a outras proteínas cárneas. Com o aumento da produtividade, surgem novos desafios sanitários a cada ano, que exigem um olhar mais atento, especialmente no que diz respeito ao conhecimento e às melhores formas de prevenção. Isso se torna ainda mais relevante considerando que há poucos medicamentos autorizados para o tratamento de peixes destinados ao consumo. Infelizmente, a cada ano, surgem novas doenças, e acredito que o conhecimento continua sendo a melhor forma de prevenção.

Nos dias 10, 11 e 12 de julho, ocorreu o 13º Workshop Internacional de Sanidade em Piscicultura, no Centro de Convenções da Unesp, Campus de Jaboticabal, São Paulo. Coordenado pelas doutoras Fabiana Pilarski e Daniela Nomura Varandas, o evento reuniu mais de 200 participantes, incluindo piscicultores, técnicos, representantes comerciais, associações, pesquisadores, professores e estudantes de todos os estados brasileiros, além de participantes e convidados internacionais. Com o tema central “Sanidade como Protagonista no Cenário Aquícola Brasileiro: Enfrentando Doenças e Buscando Soluções”, o workshop destacou a importância da prevenção de doenças e seu impacto no desempenho produtivo do setor.
Desde 2008, o workshop se consolida como um evento acadêmico essencial, onde a universidade abre suas portas para o setor produtivo, abordando temas cruciais para a sustentabilidade da piscicultura. Em um cenário de desafios econômicos, climáticos, tecnológicos e, principalmente, sanitários, discutir como vencer as doenças é essencial para manter o Brasil na Tilapicultura.
Em 2019, tive a oportunidade de participar pela primeira vez do Workshop de Sanidade, cujo tema central era “Otimizando a Produção com Tecnologia e Saúde”. Desde então, sou fã deste evento, que considero um dos mais importantes no setor. Naquele ano, discutíamos patógenos como acantocéfalo e perulérnea nos tambaquis, bacterioses e o vírus da TILV, que estava começando a afetar países na América Latina. Algo que me marcou foi ouvir pela primeira vez uma palestra sobre bem-estar na produção de tilápias, intitulada “Bem-estar na Produção de Tilápias: Quem se Importa?”. Já tinha aprendido sobre o impacto do estresse na saúde dos peixes com a professora Fabiana Pilarski, mas o tema do bem-estar animal era quase inexplorado. Posteriormente, conheci a pesquisadora Ana Sílvia Pedrazzani e o professor Leonardo Barcellos, agora colunista no portal da AB, e pude me aprofundar nesse fascinante e importante tema para a piscicultura brasileira.
O workshop de 2019 focou na importância do manejo preventivo e nas estratégias e ferramentas para otimizar a produção de peixes. Desde então, as pesquisas evoluíram, e muitas tecnologias se popularizaram, chegando ao campo. Hoje, é comum encontrar diversas opções de rações específicas para os diferentes desafios do cultivo, além de aditivos alimentares, prebióticos, probióticos, ácidos orgânicos, óleos essenciais, vacinas, melhoramento genético, biossegurança e automação na produção, tudo isso fortalecendo ainda mais o setor.
Neste ano, destacaram-se as discussões sobre a prevenção de doenças antigas e das emergentes, com boas práticas de manejo, medidas preventivas, biosseguridade, aditivos alimentares e vacinas autógenas, já bem estabelecidas na suinocultura. Também foram abordadas as principais doenças emergentes, como lactococose e o temido vírus ISKNV, e como conviver com elas.
Como nas edições anteriores, houve uma aula prática sobre o diagnóstico de doenças, onde foram discutidos os principais sinais clínicos e a importância do monitoramento sanitário, que pode ser realizado rotineiramente nas propriedades, em atividades como biometrias e repasses de peixes, por exemplo.
Ao suspeitar de uma doença, o recomendado é enviar material para um laboratório especializado para o diagnóstico correto e, posteriormente, prescrição do tratamento adequado. Conhecer os principais sinais clínicos de cada tipo de doença direciona as investigações no laboratório, e é essencial que piscicultores e técnicos de campo estejam familiarizados com esses sinais, sejam eles provenientes de problemas fúngicos, parasitários, bacterianos ou virais. Sabemos que grande parte dos sinais clínicos em peixes não são patognomônicos, ou seja, não são específicos para uma doença, mas essas informações são cruciais tanto para a coleta de material quanto para a execução das análises que levarão a um diagnóstico preciso.

Tivemos ainda a oportunidade de visitar os laboratórios do Centro de Aquicultura da Unesp, onde são realizados diagnósticos de doenças via biologia molecular e sequenciamento genético, observando de perto os processos e etapas de preparação de diagnósticos.
Também conhecemos o Pockit Central da Y3K, um equipamento portátil de testes rápidos de PCR, capaz de detectar as principais doenças bacterianas e virais na piscicultura e carcinicultura em apenas 85 minutos, uma ferramenta importante para o monitoramento e controle sanitário nas fazendas.
Considerado um dos melhores eventos sobre saúde de peixes, o workshop reafirma seu papel fundamental na capacitação dos profissionais do setor aquícola. A combinação de palestras, discussões, conexões e atividades práticas proporcionou uma experiência rica e relevante, evidenciando a importância da sanidade na busca por um setor de piscicultura mais sustentável e produtivo. Parabenizo as coordenadoras e idealizadoras do evento, Fabiana Pilarski e Daniela Nomura, assim como a todos os organizadores do Laboratório de Microbiologia e Parasitologia de Organismos Aquáticos do Centro de Aquicultura da UNESP (CAUNESP).
Moral da história: Conhecendo profundamente as principais doenças atuais, podemos agir na prevenção com manejo correto e biossegurança nas propriedades, agindo na raiz do problema. Afinal, é melhor (e mais barato) prevenir do que remediar! Isso impacta positivamente a produção, reduzindo os impactos ambientais com o uso responsável dos antimicrobianos, promovendo a saúde e o bem-estar dos animais e, consequentemente, a saúde única. Devemos também continuar atentos à prevenção de doenças antigas, como os parasitos que mencionei no início, pois eles são portas de entrada para grande parte das doenças atuais.
Diante dos constantes desafios sanitários, precisamos estar preparados, munidos de informação de qualidade e pensamento crítico para a tomada de decisões nas propriedades. A capacitação de piscicultores e técnicos de campo é fundamental para vencermos os obstáculos e continuarmos crescendo, apesar dos desafios.
Nos vemos em 2026 na próxima edição do Workshop Internacional de Sanidade em Piscicultura!
Fernanda Queiróz e Silva – Técnica em Aquicultura – Unidade de Desenvolvimento Rural – SDE – Prefeitura Municipal de Joinville