O que não é normal — ou o que não faz sentido — é a cadeia como um todo (aquicultura + pesca) atacar determinado segmento com a intenção de exaltar o segmento onde atua. Baita tiro no pé. A aquicultura tem suas virtudes e seus defeitos. A pesca tem suas virtudes e seus defeitos. O mesmo vale para pescado de água doce x água salgada, importado ou nacional, salmão cultivado ou selvagem, e assim por diante. A proteína aquática, que por sinal é a proteína animal mais consumida no mundo, já tem atributos que a colocam num patamar superior em relação às demais proteínas de origem animal.
É fundamental que todos os envolvidos com a cadeia da proteína aquática tenham o entendimento do quão desconfortável os consumidores se sentem na hora de escolher um peixe no supermercado, na peixaria, na feira livre ou no cardápio de um restaurante. Não é uma tarefa fácil, pois falta informação séria e falta padronização dos produtos. Primeiro precisamos promover, com responsabilidade, o mercado como um todo e não dividir a pizza. Aliás, traçando um paralelo com o consumo de pizza, hoje escolhemos a combinação de sabores que mais nos agrada. Mas antes disso, foi naturalmente desenvolvido em nós um desejo em consumir pizza de um modo geral. No caso do pescado, a sensação é que estamos querendo pular uma etapa e forçar os consumidores a preferirem um único sabor. Igualmente à pizza, pescado tem sabores pra todos os gostos.
Em resumo: primeiro promover toda uma categoria, de modo que os consumidores tenham maturidade e segurança sobre o que estão consumindo. Depois, conforme crenças, filosofias de vida, preferências de paladar, poder aquisitivo, entre outros fatores, cada um vai consumir aquilo que mais lhe agrada e que está ao seu alcance financeiro.
E qual o cenário que temos hoje? Ainda uma forte resistência e/ou desconfiança — pra não dizer preconceito — por parte dos consumidores quando o assunto é consumo de pescado, além de mensagens vindas do próprio setor exaltando determinado produto ou segmento às custas de ataques aos outros. Qual o resultado disso? Confusão ainda maior junto aos consumidores que, por muitas vezes, não sabendo exatamente a origem do pescado que estão consumindo, preferem simplesmente não consumir. Todos saem perdendo.
Do mais rico ao mais pobre, o desejo de consumir pescado é o mesmo. Comercialmente falando, o pescado com maior valor agregado (talvez o bacalhau) é tão importante quanto o mais barato (talvez a sardinha). E há ainda aquelas espécies pouco conhecidas pelos consumidores. Temos uma vasta diversidade de pescado com textura, sabor e ausência de espinhos tão boas quanto a tilápia, o salmão, o tambaqui e o atum — e, muitas vezes, com preços até mais acessíveis. No entanto, são desconhecidas pelos consumidores.
Algumas espécies com nomes tão estranhos que chegam a afugentar os consumidores, como: pregereba, sororoca, olho-de-boi, entre outras. Mas possuem carne de ótima qualidade. Iniciativas que promovam o aumento do consumo de pescado de modo geral beneficiam o setor como um todo, diferente de iniciativas que denigrem determinado segmento.
Um exemplo interessante é a plataforma FishCode (www.fishcode.com.br e @fishcode), que através de um linguajar de fácil compreensão vem educando e orientando os consumidores na escolha do pescado, sem vaidades em relação à origem, mas com o cuidado de não incentivar o consumo de espécies em risco de extinção ou oriundas da pesca predatória.
Mais uma vez, pensando no ponto de vista dos consumidores, devemos considerar que somos diariamente bombardeados por uma comunicação afetiva que explora indignação, agressão, ódio, medo e até o ataque simplesmente por atacar. Seja com fatos reais ou fake news, nem sempre prevalecem os melhores argumentos, mas sim as estratégias que mais instigam. E é justamente aí que se identifica uma lacuna: a carência de conteúdos e informações sem vieses, que venham para educar e orientar com responsabilidade e sem vaidades.
Além de produzirmos com eficiência, também é fundamental vendermos uma boa imagem da cadeia como um todo, pois é assim que vamos conseguir agregar mais valor e dar vida longa à atividade.










