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    Afinal, produzimos peixe conforme a demanda do nosso mercado?

    Posso dizer que vi nossa aquicultura nascer, crescer e hoje ser uma realidade no agronegócio brasileiro. Já estamos na aquicultura mecanizada e migrando rapidamente para a aquicultura automatizada. E tenho muito orgulho e satisfação por, de certa forma, ter deixado alguma contribuição para este desenvolvimento nos últimos anos.

    Por conta deste íntimo envolvimento com a atividade, seja peixe ou camarão, tenho muita convicção para dizer: “Nascemos com a intenção de produzir espécies nobres para as classes A e B e ainda não conseguimos nos desvencilhar disso.” Exceto no caso das Carpas no sul do Brasil, onde se via uma produção mais voltada para a agricultura familiar, historicamente sempre se buscou o aperfeiçoamento de tecnologias para espécies nobres: Pacu e Tilápia, depois os híbridos de pintados e híbridos de redondos, Matrinxã, Piraputanga, aí veio o Pirarucu, enfim, várias espécies e cruzamentos com um mesmo objetivo: produzir uma espécie de qualidade “top” para agradar aos paladares mais aguçados.

    Além de saboroso, de preferência que este peixe fosse apresentado na forma de filé. Sem sombra de dúvidas algo sensacional. Inclusive reconheço que também pactuei por muito tempo desta visão de mercado. Acontece que, se por um lado desenvolvemos um lindo trabalho no campo, por outro creio que tenha faltado uma melhor leitura, um melhor entendimento do mercado.

    Outro fato interessante: ou nosso foco foi produzir filé de espécie nobre ou exportar. Exportar, exportar, exportar… O melhor negócio do mundo! Se não damos conta nem de atender a todas as demandas internas, para que olhar para o mercado externo?

    Pensando no brasileiro da classe E até a classe A, quais tipos de pescado podemos produzir para atender nossa demanda em sua plenitude? De forma simplista o cenário atual da oferta de pescado no Brasil por classes é algo do tipo:

    • Nossa aquicultura produzindo para atender as classes A e B, porém, concorrendo com salmão e bacalhau importado;
    • Pesca comercial com uma pequena participação nas classes A e B e com expressiva participação das classes C, D e E;
    • Mas quem realmente está dominando as classes C, D e E é a merluza da Argentina, a polaca do Alasca e o panga do Vietnã.

    Cabe ressaltar que, em termos de volume financeiro, estas classes menos favorecidas movimentam mais dinheiro que a classe elitizada. E é aí que simplesmente não temos qualquer participação.

    Fundamental registrar que recentemente tivemos um forte trabalho com o PangaBR visando atender a estas classes menos favorecidas. Continuo torcendo pra que esta iniciativa emplaque, mas… ainda não se firmou. E é justamente aí que talvez tenhamos a grande falha do setor: ainda estamos à procura da ESPÉCIE MARAVILHA, parafraseando aqui meu amigo Sérgio Tamassia.

    Os principais produtores mundiais de pescado trabalham com uma ou duas espécies e nós aqui tentando trabalhar com pelo menos dez! Não precisamos reinventar a roda atrás de novas espécies. A tal “espécie maravilha” não existe! O que existe é uma melhor leitura do mercado e novas estratégias em cima daquilo que já temos pacote tecnológico formatado, que já temos cadeia produtiva estabelecida e que nossos consumidores já conhecem.

    Tilápia de 900 gramas inteira eviscerada, posta de tilápia, tilápia de 400 gramas inteira eviscerada, posta de tambaqui, tambaqui curumim (tambaqui de 400–500 gramas retalhado) são apenas alguns exemplos de espécies que já criamos com alta eficiência e que poderiam ser apresentadas de forma diferente e então atender a diferentes classes de consumidores que estão ávidos para comer peixe, mas não têm condições financeiras de comprar filé.

    Talvez, ao invés de pensar em qual espécie devemos produzir, deveríamos pensar em como vamos fornecer aos consumidores proteína aquática! Sem vaidades e, acima de tudo, de forma rentável para quem produz.

    Em tempo, é simplesmente mágico poder atuar em uma indústria tão dinâmica, com tantos desafios a serem superados e que o mundo aguarda ansiosamente por novas soluções vindas do universo aquático. É por isso que a aquicultura é tão apaixonante.

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