Indiscutivelmente, nunca houve uma abertura tão grande para consumo interno de camarão de cultivo no país como nos últimos 3 anos. É um momento muito semelhante à evolução de consumo interno que ocorreu entre 2004-2010, onde com a queda das exportações o produtor de camarão desbravou o mercado interno, porém com o volume ainda maior.
Problemática
Atualmente no Brasil, cerca de 65% a 75% (78.000 a 84.000 toneladas) do camarão de cultivo é comercializado de forma in natura (fresco), onde o tempo de prateleira pode chegar até no máximo 10 dias, dos quais, o tempo de deslocamento para chegar aos grandes centros leva de 1-3 dias.
Ocorre que com tão pouco tempo de “shelf life” (tempo de vida dos alimentos), a parte comercial fica muito restrita, seja pela falta de capilaridade da venda, como pela concorrência, ou ainda por motivos relacionados à programação das fazendas e sazonalidade.
Diante disso, para a maioria dos produtores que trabalham 100% com vendas de camarão in natura, é importante ligar o “alerta” porque os desafios relacionados à comercialização podem aumentar drasticamente nos próximos anos, à medida e no ritmo que a oferta desse tipo de camarão in natura for aumentando.
Dilemas
Aumentar a produção ou melhorar a comercialização? É possível fazer os dois juntos? Sim, mas para potencializar o aumento do consumo de camarão no Brasil, se faz necessário aumentar o leque de produtos e ter maior capilaridade de vendas, por isso, aumentar a participação de vendas de camarão congelado é tão importante. Mas para que essa transição ocorra, se faz necessário o investimento na parte comercial da fazenda, seja por representação ou assumindo 100% a operação.
Tornar maior o “shelf life” permite a possibilidade de chegar em novos destinos, regula o funil de compra do camarão in natura, e traz mais sustentabilidade para os produtores. Mas a pedra fundamental é o planejamento e a organização financeira, afinal, a demanda financeira é bem maior na operação do camarão congelado, pois os ritmos de vendas dos produtos funcionam em velocidades diferentes em relação às receitas. Nesse caso, é importante entender que ninguém migra do camarão in natura para o congelado em um processo rápido, por isso a estratégia comercial é essencial.
Tendência
No passado, quando se falava em processar camarão, logo se pensava em grandes volumes enviados para o processo, processamentos grandes, com muitos funcionários e um custo muito alto do serviço e da operação. Atualmente, ainda de forma tímida vem ocorrendo a abertura de pequenos processamentos, que funcionam de maneira legalizada e mais dinâmica, permitindo uma maior viabilidade na operação.
Outro ponto, não menos importante, que pode favorecer essa tendência, é a possibilidade de adquirir selos de inspeção. A obtenção do SISBI – POA (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal) ao invés do SIF (Serviço de Inspeção Federal) diminui muito as exigências burocráticas e torna mais viável a implementação de pequenas indústrias de processamento.
Há ainda muitos elos que podem evoluir nessa cadeia, e contribuir para eficiência da operação, principalmente no uso de equipamentos, como, por exemplo: classificadoras em tamanhos menores, esteiras apropriadas, congelamento IQF (Individually Quick Frozen ou Congelamento Rápido Individualizado).
De uma maneira geral, para todos os produtores, inclinados ou não para o “mundo dos congelados”, se familiarizar com o que envolve a industrialização do camarão congelado, entender como funcionam os processos, compreender as classificações (inteiro, cauda e filé) e como são vendidos os produtos (tipo e tamanho das embalagens) é, sem sombra de dúvidas, um pontapé inicial válido para refletir sobre o futuro do seu negócio.