Muitas instituições de pesquisa vêm trabalhando no desenvolvimento destas tecnologias, que possam permitir a substituição do extrativismo pela criação em cativeiro. Infelizmente, entretanto, nos dias atuais, mais de 90% das espécies de peixes ornamentais marinhos ainda dependem da extração nos ambientes de recifes de corais. Considerando a fragilidade destes ecossistemas e as ameaças (aquecimento global, poluição, turismo desordenado) que os recifes de corais vêm sofrendo, o extrativismo de determinadas espécies de peixes ornamentais nestes ambientes só agrava a situação.

Como proteger os recifes de corais e contribuir para a sustentabilidade do hobby de manter peixes ornamentais marinhos em aquários? Este seria um assunto extenso, mas aqui nesta coluna, para focarmos apenas em uma pequena face do prisma, vamos escrever um pouco sobre experiências de sucesso que estão acontecendo no Brasil.
Vocês sabiam que uma pequena empresa no estado de São Paulo, mais de 100 km longe do mar, vem tendo sucesso na reprodução de peixes ornamentais marinhos de recifes de corais? Tive o prazer de conhecer o trabalho do Flávio e do Adilson, da Biomarine. Trata-se de uma dupla empolgante, que na base da “paixão, empenho e muito trabalho” vem obtendo sucesso com espécies emblemáticas como o peixe mandarim (Synchiropus splendidus) e mais recentemente com o anthias cauda de lira (Pseudanthias squamipinnis). Estamos escrevendo um artigo técnico, que deve ser publicado em breve na Aquaculture Brasil, sobre estes esforços.
A Biomarine tem conseguido comprovar que a criação em cativeiro de espécies de peixes ornamentais marinhos traz uma série de vantagens. Estima-se que, em média, ocorra mortalidade de até 60% dos exemplares capturados nos diferentes elos da cadeia de comercialização (captura, transporte, embalagem, quarentena etc.). Ou seja, um enorme impacto para os recifes de corais e um péssimo resultado para todos os atores envolvidos, principalmente para o aquarista, que financia este desperdício. A Biomarine vem trazendo uma alternativa a tudo isto, produzindo e entregando nas lojas de aquarismo exemplares saudáveis, adaptados aos aquários, aceitando dieta inerte e ainda trazendo o “atestado” de inovação tecnológica e produção sustentável.
Existem outras empresas no Brasil, mas principalmente no exterior, que já estão atentas a esta oportunidade e vêm trabalhando no desenvolvimento de tecnologia para produção em larga escala de espécies de peixes ornamentais marinhos. Neste sentido, parece que nosso tema “Capturar ou criar?” já vem sendo respondido. Muitos desafios ainda estão no caminho destes inovadores entusiastas. Certamente, entretanto, o caminho está sendo trilhado e trará significativas contribuições, tanto para a geração de empregos e renda como também para contribuir na conservação dos recifes de corais.
Ampliar a sustentabilidade do aquarismo, notadamente o de espécies de água salgada é um grande desafio. Muito ainda precisa ser realizado, desde o desenvolvimento tecnológico até a maior conscientização dos aquaristas e dos lojistas. Inicialmente, o peixe produzido em cativeiro será mais caro ao consumidor do que o proveniente do extrativismo. Desnecessário dizer, entretanto, que os malefícios do extrativismo não estão inseridos neste preço. Cabe a cada consumidor refletir sobre isto quando pensar em adquirir novos exemplares para seu aquário. No futuro, com a produção em maior escala estes preços podem cair (o peixe palhaço é um exemplo disto).
Inegável o orgulho em ver empresas nacionais fazendo a diferença na aquicultura ornamental. Avante Biomarine, avante Flávio e Adilson. Avante a todos os que se dedicam a reproduzir peixes ornamentais marinhos e contribuem na redução do extrativismo nos recifes de corais. Até a próxima coluna. E não esqueçam que a aquicultura ornamental, de pequena, só tem o peixe!!!