Um novo estudo mostrou que ossos de tilápia (Oreochromis niloticus), normalmente descartados como resíduo do processamento, podem ser convertidos em um bio-cálcio com biodisponibilidade muito superior à de fontes comerciais tradicionais, como o carbonato de cálcio. Os pesquisadores testaram diferentes concentrações de hidróxido de sódio (NaOH) no processo de extração e avaliaram rendimento, composição e quanto do cálcio é, de fato, aproveitado pelo organismo.
O tratamento com 2 M de NaOH alcançou biodisponibilidade de 8,57%, superando o controle e ficando cerca de 12 vezes acima do carbonato de cálcio comercial. Tilápias de cultivo tiveram seus ossos coletados após o filetagem e submetidos a tratamentos com soluções de NaOH a 0,5 M, 1 M e 2 M, além de um controle sem tratamento alcalino. Aumento da concentração de NaOH reduziu o rendimento em massa de bio-cálcio, mas melhorou o brilho do pó, elevou o teor de cinzas (indicador de minerais) e, principalmente, aumentou a fração de cálcio biodisponível. O tratamento com 2 M de NaOH alcançou biodisponibilidade de 8,57%, superando o controle (7,26%) e ficando cerca de 12 vezes acima do carbonato de cálcio comercial, que atingiu apenas 0,72%.
Microscopia eletrônica (SEM) revelou superfícies mais lisas e poros mais homogêneos no bio-cálcio tratado com 2 M. Com NaOH mais concentrado, o material final apresentou menor teor de umidade, proteína e gordura, ao mesmo tempo em que aumentou o conteúdo de hidroxiprolina, aminoácido típico do colágeno, e reduziu a oxidação de lipídios. Microscopia eletrônica (SEM) revelou superfícies mais lisas e poros mais homogêneos no bio-cálcio tratado com 2 M, características que podem favorecer a dissolução e absorção. Análises de ATR-FTIR e EDS confirmaram que, mesmo após o tratamento, a estrutura de hidroxiapatita – forma de fosfato de cálcio presente em ossos e dentes – foi mantida.
O ajuste fino da concentração de NaOH é decisivo para equilibrar remoção de proteínas, pureza mineral e capacidade de o cálcio ser assimilado pelo organismo.
Segundo os autores, o ajuste fino da concentração de NaOH é decisivo para equilibrar remoção de proteínas, pureza mineral e capacidade de o cálcio ser assimilado pelo organismo. A otimização proposta para ossos de tilápia preenche uma lacuna importante, já que a maioria dos estudos anteriores focava espécies marinhas como salmão, bacalhau e atum, e priorizava apenas o rendimento ou a composição química, sem detalhar a biodisponibilidade.
O bio-cálcio de ossos de tilápia pode ter vantagens fisiológicas em relação a sais inorgânicos usados hoje em suplementos. O trabalho aponta que o bio-cálcio de ossos de tilápia, por ser composto de hidroxiapatita semelhante à do esqueleto humano e carregar colágeno e minerais traço, pode ter vantagens fisiológicas em relação a sais inorgânicos usados hoje em suplementos. Ao transformar um subproduto abundante da tilapicultura em ingrediente de alto valor agregado, a tecnologia contribui para a economia circular na aquicultura e oferece uma alternativa sustentável para enfrentar a deficiência de cálcio em diferentes populações.










