Uma nova pesquisa avaliou o uso de resíduo de batata-doce fermentado como substituto da farinha de peixe em rações para o camarão-branco-do-Pacífico Litopenaeus vannamei. O estudo testou quatro dietas isoproteicas e isoenergéticas: uma dieta controle com 350 g/kg de farinha de peixe e três formulações nas quais esse ingrediente foi substituído pelo resíduo fermentado em 28% (FSP28), 57% (FSP57) e 86% (FSP86), durante oito semanas de cultivo em tanques.
Até 57% de substituição, não houve diferença significativa no ganho de peso e sobrevivência em relação ao grupo controle, indicando que o resíduo de batata-doce fermentado pode substituir parte da farinha de peixe sem prejuízo direto ao desempenho produtivo. Já no nível de 86%, houve redução expressiva do ganho de peso, da sobrevivência (58% contra 72% na ração controle) e aumento da conversão alimentar, além de menor teor de proteína e gordura no corpo dos animais.
A pesquisa também avaliou enzimas digestivas e de defesa presentes no hepatopâncreas, órgão que combina funções de fígado e pâncreas em crustáceos. Na dieta FSP28, a atividade de lipase aumentou significativamente, o que pode favorecer o aproveitamento de lipídios. Em contrapartida, níveis mais altos de substituição (FSP57 e FSP86) reduziram atividades de enzimas ligadas à imunidade e à proteção antioxidante, como lisozima (LZM), peroxidase (POD) e superóxido dismutase (SOD), sugerindo impacto negativo sobre a capacidade de defesa do organismo.
Na microbiota intestinal, todos os níveis de inclusão reduziram a abundância de Vibrio, gênero bacteriano frequentemente associado a doenças em camarões, e aumentaram a presença de bactérias consideradas benéficas, como Agarivorans, Ruegeria e Maribacter. A diversidade geral de microrganismos se manteve estável, mas a riqueza de espécies e a composição variaram mais intensamente no grupo FSP86, indicando maior perturbação da comunidade microbiana nesse nível de substituição.
A análise metabolômica do fígado mostrou que o resíduo fermentado altera vias metabólicas importantes, principalmente aquelas ligadas ao metabolismo de aminoácidos e de lipídios. Em níveis moderados, essas mudanças parecem favorecer funções relacionadas à imunidade e ao controle do estresse oxidativo, enquanto a substituição de 86% esteve associada a desequilíbrios nutricionais, queda na atividade de enzimas antioxidantes e pior desempenho zootécnico.
Os autores concluem que o resíduo de batata-doce fermentado é um substituto promissor da farinha de peixe em dietas para L. vannamei, com melhor faixa de inclusão entre 28% e 57%. Nesses níveis, o ingrediente contribui para melhorar a microbiota intestinal e modular positivamente o metabolismo hepático, sem comprometer crescimento e sobrevivência, representando uma estratégia potencial para reduzir custos de ração e aproveitar um subproduto abundante na cadeia agroindustrial.










