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    Interiorização do camarão marinho

    Fazendo jus ao título da sessão, Atualidades e Tendências da Aquicultura, não poderia deixar de falar sobre a mais recente modalidade de expansão da carcinicultura: a produção de camarão marinho em águas interiores. Ou seja, sem qualquer influência da água marinha. Mas que tipo de água isto envolve? Absolutamente todas, exceto, obviamente, as dos rios poluídos que cortam nossas cidades.

    São águas possíveis de se criar camarão marinho: rios de água doce, rios de água salobra, poço caipira ou poço amazonas (com água salobra ou doce), poço artesiano (com água doce ou salobra), água de chuva e até “água de rua” fornecida pelas companhias de saneamento básico. A diferença é que enquanto algumas destas precisam de correção, outras — onde vislumbro o maior potencial — são naturalmente aptas à criação de camarão marinho. Com detalhes interessantes: sustentabilidade ambiental, oportunidade de fixação do homem no campo, geração de renda em áreas improdutivas e produção de proteína nobre com alto valor agregado.

    Para não gerar confusão, deixo claro quais são as situações possíveis nestes diferentes tipos de água. Água salgada obtida pela adição de NaCl é uma coisa; água marinha é outra. Ao mesmo tempo que o camarão marinho não é totalmente dependente de água marinha, não é correto imaginar produção comercial em água salgada feita apenas com NaCl. Elevando a dureza para mais de 80 mg/L de CaCO3 ele até sobrevive, mas não é o ideal comercialmente.

    Também não é proposta deste artigo apresentar parâmetros físico-químicos ideais. Primeiro porque pequenas variações podem influenciar apenas produtividade. Segundo porque todos os parâmetros podem ser corrigidos. Nas águas naturalmente aptas, pouca técnica é necessária. Onde a correção é imprescindível, muita técnica e profissionais especializados são obrigatórios.

    Numa criação comercial em águas interiores, o objetivo é proporcionar um adequado balanço iônico, e não alta salinidade. Além do NaCl, os camarões precisam de potássio, cálcio, magnésio e sulfato. Mais importante que a quantidade é a relação entre estes sais. Assim, podemos ter uma água com salinidade de 1 ppt, baixa em sais, mas com boas relações entre eles — ideal para criação comercial. A primeira análise, portanto, não pode se resumir só à salinidade. O segundo aspecto é dureza e alcalinidade, devendo estar acima de 100 mg/L de CaCO3.

    Estas características são comuns nas águas do interior do Nordeste do Brasil. Não sendo necessário qualquer tipo de correção. Como exemplo, dezenas de produtores de arroz do Vale do Jaguaribe–CE (a cerca de 100 km do litoral) estão abandonando a rizicultura e produzindo camarão marinho sem qualquer correção na água.

    No Sudeste, estes tipos de águas naturalmente aptas não são tão comuns. Existem, mas em localidades específicas. Em poços artesianos, a variação química é ampla. Análises disponíveis na CETESB mostram poços com dureza de 20 mg/L e outros com 350 mg/L de CaCO3, sendo estes últimos excelentes. Mas a melhor notícia é que já dispomos de tecnologias para fornecer o balanço completo de sais necessários, a custo acessível.

    Já há empresas que disponibilizam sal para constituição de água marinha artificial específica para produção comercial. Neste caso, pouco importa a química original da água. Porém, envolve conhecimento técnico e acompanhamento diário, especialmente quando associado ao sistema de bioflocos (BFT).

    Em qualquer cenário, nunca deve haver descarte de água ao ambiente. Os sistemas produtivos — viveiros escavados ou tanques elevados — devem ser planejados para reutilização (tratamento e recalque) da água. Além de ambientalmente sustentável, é financeiramente mais eficiente.

    Por fim, é importante registrar o potencial de transformação dessa interiorização. No Sul e Sudeste, há a chance de ter produção próxima ao mercado consumidor. No Nordeste, onde a água salobra muitas vezes é um problema, surge a oportunidade de explorar um recurso antes sem utilidade.

    Simples? Não. Tudo que é fácil já tem alguém fazendo. Porém, é perfeitamente possível e viável tecnicamente.

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