Pois bem! Vamos falar sobre o momento atual, e relembrar alguns pontos importantes que marcaram a evolução desses sistemas. Para que não haja uma confusão de entendimentos, explicarei a seguir as configurações que transcorreram desses sistemas no Brasil:
1. Viveiros escavados (sem geomembrana e sem estufas)
Essa modalidade, embora não seja totalmente intensiva, pois em sua maioria são cultivos com 50 a 80 camarões/m² e já exista, inclusive antes das demais modalidades, ocorre em viveiros tradicionais, cujo tamanho pode variar entre 1000 e 5000 m², e resiste às oscilações ao longo dos anos, dos desafios e das doenças.
Na Paraíba, uma região conhecida como vale do Paraíba, se destaca com esse modelo. Além da produção ser em águas oligohalinas, as produtividades podem alcançar entre 5000-8000 kg/ha/ciclo. Estima-se uma área de produção de 300-400 hectares desse modelo no Brasil.
Essa temporada, devido à alta da ração, timidamente se observa uma tendência de substituição parcial ou total da ração por farelo de soja fermentada com probiótico.
2. Viveiros escavados (com geomembranas, sem estufas)
Esse modelo de sistema foi mais comum entre 2008 e 2009, e foi muito espelhado no modelo asiático. Com a chegada da mancha branca no Nordeste em 2011, perdeu bastante força. Existem poucas fazendas em operação, com densidades e produtividades semelhantes ao exemplo anterior, presentes principalmente nos estados de AL, CE e RN. Em algumas fazendas novas é possível ver o incremento estrutural do dreno central (shrimp toilet).
3. Tanques escavados ou suspensos (com geomembranas, circulares ou retangulares, com recirculação)
Dos sistemas intensivos existentes, pelas suas configurações de tamanho (100-300 m³), esses modelos são os que demandam trabalhar em densidades mais altas (150-500 camarões/m³) e também os que permitem as maiores produtividades (kg/m³).
Inicialmente, sua propagação ganhou força com conceitos inspirados na produção em bioflocos, contudo, atualmente há várias estratégias de cultivo. Esses sistemas são mais comuns nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, e se destacam também pelo uso de água fabricada (salinizada artificialmente), tornando possível a produção em qualquer lugar.
Um dos gargalos para esses sistemas é a falta de mão de obra com experiência em processos produtivos nessas regiões e a própria inovação do sistema, que requer sua curva de aprendizagem.
4. Viveiros escavados (com ou sem geomembrana, com estufas, com ou sem recirculação, com ou sem drenagem de fundo)
Esse é o modelo de produção mais expressivo quando falamos dos sistemas intensivos no Brasil. Sua área abrange cerca de 70-80 ha de produção. Ganhou destaque no país a partir de 2013, quando foi possível produzir com eficiência frente ao vírus da mancha branca (WSSV).
Depois dos primeiros anos promissores, com produtividades atingindo 25-30 toneladas/ha/ciclo para camarão grande, nos últimos anos vem sofrendo grandes desafios de produção relacionados ao vírus da mionecrose infecciosa (IMNV), um dos grandes inimigos desses sistemas.
O momento atual para esses sistemas é de readequação de estratégias de cultivos para melhor convivência com o vírus da IMNV, que geralmente impossibilita trabalhar nas densidades de 150-200 camarões/m². Por isso, muitos produtores estão reduzindo suas densidades de cultivo.
Ração, pós-larvas e outros insumos para os sistemas intensivos
Tanto para rações como para pós-larvas, há um sentimento de limitação desses insumos no Brasil. Embora ainda seja possível ver resultados zootécnicos positivos com participação de ambos, a presença de enfermidades pressiona a busca por melhores processos e aumento de qualidade dos produtos.
Na perspectiva das pós-larvas, os laboratórios estão, a curto prazo, buscando melhorar internamente processos e, a médio prazo, estão aperfeiçoando os programas para melhorar a resistência dos animais. Outra ação, que está acontecendo com interesse de produtores, é a perspectiva de importação de novos materiais genéticos.
No tocante à ração, o custo de rações apropriadas para esse sistema subiu de tal maneira que seu uso está praticamente inviabilizado. Por esse motivo, muitos produtores passaram a repensar seu manejo nutricional.
Há sempre uma comparação de qualidade de ração com a do continente asiático, tamanho do pellet e composição da ração, mas o fato é que há poucas informações científicas e concretas sobre a eficiência e deficiência exata desse insumo no Brasil.
Sobre insumos em geral, o fato é que nunca se teve uma disponibilidade tão grande de insumos na carcinicultura como atualmente: ácidos orgânicos, betaglucanos, nucleotídios, enzimas, aditivos naturais, bactérias nitrificantes, entre outros. Saber usá-los, quando e em qual quantidade, é o desafio que cada produtor tem encontrado para viabilizar, produtiva e financeiramente, o seu sistema.
Perspectivas
O momento para os cultivos intensivos no Brasil é delicado. A produção de camarão cresce (em densidades mais baixas), o que é refletido na oferta, preço e competitividade da comercialização do camarão no país. Logo, a pressão sobre esses sistemas aumenta, em busca de eficiência e estabilidade de resultados.
Alcançar a viabilidade para o intensivo será um grande jogo de xadrez, mas pela própria história da carcinicultura, tudo pode mudar. Para isso, o tempo, a cautela e as estratégias utilizadas serão fatores importantíssimos para alcançar o sucesso.