Entrega sob medida para cada etapa de produção
O sucesso depende de como o fago chega ao alvo. O estudo aponta quatro caminhos principais:
- Aplicação direta na água. Funciona bem em volumes baixos, como desinfecção de ovos e tanques de larvas. Em grandes volumes, manter a concentração eficaz é caro. Banhos de imersão são possíveis, mas pouco práticos para grandes lotes.
- Aditivo na ração. Revestir a ração com fagos direciona a ação ao intestino (porta de entrada comum para infecções). Os resultados em mortalidade variam conforme o patógeno e a dose.
- Tratamento de alimento vivo (rotíferos, Artemia). Reduz a transmissão vertical de bactérias para larvas e injeta fagos no sistema em volume controlado.
- Revestimento de superfícies. Fagos imobilizados em mídias e equipamentos podem inibir biofilmes (camadas de bactérias aderidas). Ensaios iniciais mostram proteção limitada; é preciso otimização.
A recomendação é focar fases iniciais (ovo a juvenil) e sistemas fechados ou semi-fechados, como RAS (sistemas de recirculação de aquicultura). Nessas condições, a concentração de fagos é sustentável e o risco ambiental é menor. Em mar aberto, a dispersão reduz a eficácia.
Gargalos científicos e práticos
Dois desafios técnicos lideram a lista:
- Especificidade e resistência. Bactérias podem desenvolver resistência a fagos por diferentes mecanismos (como modificar receptores ou formar biofilmes, estruturas protetoras). Em alguns casos, a resistência vem com perda de virulência, o que pode favorecer o controle da doença. Cocktails de fagos e, quando aplicável, combinação com probióticos (microrganismos benéficos) ajudam a mitigar o problema.
- Previsão compatível com a realidade da fazenda. Cada cultivo tem um “ecossistema” próprio de patógenos. A proposta é montar bibliotecas de fagos e bancos de dados com informações genéticas e fenotípicas de patógenos, e usar modelos de machine learning (aprendizado de máquina) para prever compatibilidade fago-hospedeiro em tempo hábil.
Há limites específicos. Patógenos intracelulares (como Piscirickettsia salmonis) dificultam o acesso do fago dentro das células. Doenças de múltiplas espécies bacterianas e coinfecções exigem formulações mais amplas. A infraestrutura também pesa: sistemas com recirculação favorecem o uso; gaiolas oceânicas dispersam fagos e elevam incertezas ambientais.
Caminhos regulatórios e mercado
O texto sugere priorizar rotas “não medicinais” para acelerar a chegada ao campo:
- Aditivo zootécnico (produto que melhora bem-estar, conversão alimentar e produtividade, e reduz antibióticos).
- Biocida (uso em superfícies e água para desinfecção).
Há sinais de avanço. Em 2018, a Noruega lançou um biocida fágico para Yersinia ruckeri em tanques de salmão. Em 15 de julho de 2025, a União Europeia autorizou um aditivo zootécnico de fagos para aves, o que pode abrir caminho para peixes. Ainda assim, aprovações como medicamento veterinário podem levar mais de 10 anos. Análises de custo-benefício por tipo de formulação serão decisivas.
O quadro geral
A terapia com fagos não substitui antibiótico “um a um”. Ela funciona melhor antes do surto, reduzindo a carga de patógenos e a transmissão. A aposta está em aplicações precoces, sistemas fechados, bibliotecas de fagos bem caracterizadas e ferramentas preditivas para seleção rápida. Objetivo: menos antibiótico, microbioma estável e menos perdas por doença.