Por que isso importa para a aquicultura
O crescimento da aquicultura aumenta a pressão por estratégias para saúde, produtividade e sustentabilidade. Surtos de doenças e uso disseminado de antibióticos seguem como desafios críticos. Estratégias que reforcem a imunidade e reduzam a dependência de químicos são urgentes.

Como as GluNPs atuamOs β-glucanos são reconhecidos como PAMPs (padrões moleculares associados a patógenos) por PRRs (receptores de reconhecimento de padrão), com destaque para receptores CTLD (domínio tipo lectina C). Em peixes, a sinalização envolve TLRs (receptores tipo Toll), CLRs (receptores tipo lectina C) e receptores “scavenger”, ativando fagocitose e citocinas. A estimulação de mucosas pode elevar IgT/IgZ (imunoglobulina de mucosa de teleósteos).
Onde aplicar em peixes
A extrapolação das propriedades indica impacto positivo na prevenção (imunostimulação e vacinas), no tratamento de doenças infecciosas e na entrega eficiente de nutrientes ou fármacos por imersão, injeção ou via oral.
Vias de administração já usadas com β-glucanos
Pesquisas com β-glucanos (não nano) em peixes utilizaram rotas parenterais (intravenosa, intraperitoneal, subcutânea), dieta (via oral) e imersão — esta última útil em larvas e pós-manipulação.

Espécies já estudadas com β-glucanos (base para as GluNPs)
Exemplos incluem carpa Cyprinus carpio, tilápia Oreochromis spp., truta-arco-íris Oncorhynchus mykiss, jundiá Rhamdia quelen, bagre-do-canal Ictalurus punctatus e black bass Micropterus salmoides. Em marinhos: robalo-europeu Dicentrarchus labrax, atum Thunnus maccoyii, pargo-vermelho-do-Pacífico Lutjanus peru, pampo Trachinotus ovatus, linguado Scophthalmus maximus e totoaba Totoaba macdonaldi.
Como se faz: principais rotas de síntese
Os métodos de síntese de GluNPs se dividem em químicos e físicos.
- Químicos
- Dissolução alcalina + gelificação iônica: uso de NaOH (hidróxido de sódio) para dissolução e TPP (tripolifosfato de sódio) para reticular/estabilizar partículas.
- Auto-organização (self-assembly): dissolução em DMSO e indução com ácido trifluoroacético (TFA).
- Exemplos de tamanho: 60 nm obtidos com NaOH/ácido acético/TPP.
- Físicos
- Moagem de bolas (ball milling): redução por impacto/atrito com esferas de ZrO₂ (dióxido de zircónio); controle por tempo/rotação.
- Homonogeneização de alta pressão (high-pressure homogenization): produção direta a partir de corpos de frutificação de fungos ricos em β-glucano.
- Filtração + consolidação térmica: formação de “nanopapers” quito-glucano para materiais/filtração.

O que ainda falta (principais barreiras)
Toxicologia e ecotoxicologia: faltam estudos específicos em organismos aquáticos (bioacessibilidade, bioacumulação, excreção, órgãos-alvo, microbioma), além do efeito do meio (salinidade, pH, temperatura, matéria orgânica) sobre estabilidade e carga superficial.
Fisiologia e eficácia: desconhecimento das rotas de absorção e distribuição em peixes; necessidade de validar efeitos como adjuvante/imunostimulante.
Técnico-metodológicas: escalabilidade, custo, reprodutibilidade e sustentabilidade de processos que hoje dependem de solventes, surfactantes e alta energia.
Regulação: ausência de diretrizes claras para aprovar/usar nanomateriais em aquicultura; autores propõem roteiro com padronização, estudos espécie-específicos, ferramentas analíticas e limites de exposição.
Status atual
Até o momento, o uso de GluNPs na aquicultura não foi investigado diretamente. A extrapolação de resultados em biomedicina, agricultura e alimentos indica potencial, mas o campo segue em fase de prospecção.