Claro que este assunto é bem mais complexo que isto, mas dizer simplesmente que o pesquisador deve se aproximar e desenvolver seus trabalhos junto ao segmento produtivo, sem considerar as dificuldades inerentes do rigor no delineamento amostral que os periódicos científicos exigem para publicação, me parece uma forma de apenas “falar o que os ouvidos gostam de ouvir”…
Pensem em como é difícil um pesquisador entender a dinâmica de um empreendimento de aquicultura. Agora imaginem um empresário e os funcionários entenderem a forma de trabalhar do pesquisador. Tente alinhar as expectativas de ambos os lados. Vejam que expectativas não alinhadas geram frustrações. E críticas de ambos os lados são comumente ouvidas em diferentes fóruns. Além disto, se por um lado os produtores esperam ansiosamente aplicar os resultados obtidos com a pesquisa, os pesquisadores são alijados pelas regras impostas pelos órgãos financiadores de suas pesquisas, que exigem cada vez mais volume de publicação em periódicos internacionais.
Apesar das dificuldades, muitos pesquisadores no Brasil têm rompido esta barreira, trabalhando alinhados com as necessidades do setor produtivo, o que tem resultado em excelentes artigos publicados em periódicos de elevado impacto e desatando grandes “nós” que existiam para produção nos empreendimentos comerciais de aquicultura. Apesar de ainda estarem longe de ser maioria, estão mostrando que este caminho é possível. Neste sentido as universidades e seus programas de pós-graduação podem fazer toda a diferença na formação dos jovens cientistas em possibilitar a aproximação destes com o setor produtivo. Assim como também cabe aos produtores “abrirem as porteiras” tendo a compreensão de que parte de seu empreendimento não irá produzir no ritmo comercial, pois estará seguindo o ritmo da ciência. Neste sentido, o programa de financiamento Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP), tem possibilitado a aproximação entre pesquisador e empresa, com resultados animadores.
Acredito que temos muito o que evoluir para realmente aproximar a academia do setor produtivo. O setor produtivo tem demandas que precisam ser atendidas pela ciência. E a ciência tem que ser realizada, também, dentro da realidade de produção de organismos aquáticos. Como pudemos abordar, temos muitos bons exemplos de trabalhos feitos em cooperação pesquisador & empreendimentos de aquicultura no Brasil, o que nos deixa a certeza de que, apesar do longo caminho ainda a ser trilhado, nossos resultados indicam que estamos no rumo certo. Neste sentido, a Aquaculture Brasil tem um importante papel em proporcionar a aproximação entre estes dois mundos. Vida longa para esta iniciativa. Até a próxima coluna!