Graças aos esforços realizados, um expressivo avanço foi obtido no conhecimento sobre esta espécie, abrindo caminho para que outros pesquisadores possam ampliar estes estudos. Os dados obtidos indicam que a reprodução da espécie ocorre praticamente o ano todo no litoral da Bahia, com exceção do outono, e com um pico reprodutivo representativo no verão. Analisando o padrão sexual encontrado para G. brasiliensis, foi possível determinar que a espécie apresenta hermafroditismo protogínico diândrico. Outra surpresa foi que a espécie apresenta um padrão de comportamento de construção de ninho! O macho constrói um ninho utilizando macroalgas em fendas e depressões no teto de cavernas e franjas recifais. A espécie se reproduz em casais formados por dois machos e preferencialmente duas fêmeas.
Vamos fazer uma interrupção, pois a surpresa é grande: peixe fazendo ninho igual de passarinho?
No artigo publicado no periódico Marine and Fresh water Research, Jonas e colaboradores descreveram toda a complexa construção do ninho pelo G. brasiliensis. O artigo ainda discute estratégias de conservação relacionadas aos comportamentos reprodutivos da espécie, que atualmente está ameaçada de extinção e tem sua captura proibida.
Atualmente existem cerca de 440 espécies de peixes recifais conhecidas para o Brasil, sendo 10% delas endêmicas. Muitas dessas possuem alto interesse e valor comercial, seja para consumo humano, ou para o mercado de aquariofilia.
Observem o potencial de biodiversidade que o Brasil possui. Imaginem o desenvolvimento de tecnologias para produzir estas espécies em cativeiro. Peixes ornamentais marinhos de pequeno porte possuem elevado valor agregado e, em pequenos espaços, podem gerar significativo incremento econômico, social e ambiental.
Estas espécies têm interessante comportamento reprodutivo, são de intenso colorido, disputadas e desejadas pelo mercado consumidor nacional e internacional e ainda ameaçadas de extinção. Lembram quando falo de aquicultura de precisão? Lembram quando escrevi sobre a precisão nas pesquisas científicas? Pois é… Parece que temos pesquisadores que utilizam a precisão para definir suas estratégias de pesquisa. Meus cumprimentos ao Jonas, ao seu orientador, Prof. Dr. Maurício Hostim e a todos que colaboraram para este avanço científico no Brasil.
Agora, olhando a última década e tudo o que tem sido feito pela aquicultura marinha no Brasil não posso deixar de perguntar… Com este potencial estratégico aliando produção de espécies endêmicas (nativas) ameaçadas de extinção, geração de renda e sustentabilidade, será que as políticas públicas têm enxergado a aquicultura ornamental marinha com precisão?
Tudo bem. Prometo que não vou mais fazer perguntas difíceis!
Até a próxima coluna.