Nos últimos anos, tem-se observado que gestores e equipes técnicas de extensionistas de órgãos de Extensão Rural de alguns Estados identificaram que apenas orientar com informações de tecnologia e boas práticas de produção não era suficiente para garantir a sustentabilidade e viabilidade do produtor na atividade no campo. Assim, iniciaram um plano de ação para amenizar essa fragilidade no meio rural, através de um plano estratégico para inserir no programa de orientação econômica por meio da assistência técnica.
Estabeleceram alguns protocolos de ação no campo, de modo que quando o extensionista chega ao empreendimento, faz um diagnóstico financeiro e dá orientações econômicas, visando amenizar a situação do campo. Tal iniciativa mostrou-se uma valiosa ferramenta de ajuda ao produtor, que passa a entender melhor os detalhes de custos e, assim, revisar suas ações para a sobrevivência em sua atividade.
Este reconhecimento da fragilidade econômica de empreendimentos no meio rural também foi identificado pelo SENAR – Serviço de Aprendizagem Rural, que em seus cursos de capacitação introduziu módulos sobre “Gestão do Negócio Rural”. Além da capacitação, este órgão tem atuado como extensionista em algumas regiões, oferecendo orientação financeira ao produtor. Tais orientações aprimoram a sensibilidade do produtor para aprimorar e ter um controle mais apurado dos pontos que, digamos, estavam sendo responsáveis pelo lucro estar indo para o ralo.
Essa contabilidade considerando os custos para produzir e o valor obtido na venda é um desafio diário do produtor, que necessita de aprendizado e orientação econômica sobre como fazer isso de forma eficiente, bem como os cuidados na aquisição dos insumos e as estratégias para escoar e vender sua produção.
Desafio do aquicultor individual e viabilidade econômica do seu empreendimento
Há um reconhecimento geral de que os órgãos de extensão e assistência possuem um papel fundamental, pois os extensionistas são formadores de opinião junto aos produtores. Por exemplo, podem motivar o produtor a trabalhar de forma organizada e até de forma integrada.
Esta situação econômica tem sido mais estável para os produtores cooperados, mesmo pequenos, com baixa oscilação em sua renda. Mas geralmente o produtor rural, quando não cooperado, enfrenta obstáculos e desafios em todos os sentidos, como logística para obtenção de insumos, dificuldade no escoamento da matéria-prima e em negociar com as indústrias; além da ausência ou deficiência de assistência técnica e extensão, oscilações de custos de insumos e elevada dificuldade de negociação de preço de venda da matéria-prima.
Tem sido um grande desafio para o produtor individual estar sozinho. Observa-se, principalmente com os médios e pequenos produtores individuais, que estes possuem dificuldades na gestão do seu negócio no campo, se comparado aos produtores que estão organizados, seja em cooperativa, associações ou integrações. Pois quando estão organizados, há maior padronização de procedimentos, custos mais estáveis, melhor rentabilidade e uma maior previsibilidade da produção.
Os produtores individuais geralmente estão mais vulneráveis às oscilações de custos dos insumos, enquanto os produtores organizados conseguem amortizar melhor os eventuais aumentos, e, portanto, há baixa oscilação em sua renda mensal. Por não estarem unidos, aumentam os riscos de desistirem e saírem da atividade.
Quando se avalia um produtor que está sozinho, constata-se que junto com o isolamento há outros aspectos negativos, como o distanciamento do conhecimento, da promoção da difusão e absorção de novas tecnologias, o que inibe a melhoria da eficiência e produtividade.
Tais evidências mostram as vantagens de estar em sistema coletivo, obtendo juntos as orientações de técnicos e de gestão de negócio, assim os produtores eliminam o risco de trabalharem isoladamente.
Desafios de produzir com viabilidade econômica
Muitas vezes, o produtor tem uma boa técnica de produção, consegue uma boa produtividade, mas se depara com um grande problema de viabilizar economicamente o seu empreendimento, fragilizado desde a parte de insumos, seja de forma jovem, seja de alevinos, pós-larvas, sementes, de oscilações de preços destes insumos que compõem a ração, como milho, soja, que são commodities.
É fundamental que os pontos básicos sejam convertidos em orientações e estas tenham efetividade, no sentido de mostrar na prática o que realmente o produtor necessita observar e gerenciar. Pois às vezes, um dos grandes desafios do produtor é a logística, por estar distante do mercado consumidor ou das indústrias que recebem a matéria-prima e processam.
Visando agilidade para escoamento da matéria-prima de sua produção, o ideal é ter indústrias de pescado próximas do seu empreendimento, devidamente regularizadas, com inspeção, ou seja, com registro de habilitação, seja federal (SIF), estadual (SIE) ou municipal (SIM), pois estes estabelecimentos absorvem a produção, seja comprando ou prestando serviços processando para o produtor.
Qualquer cadeia produtiva do agronegócio, o setor industrial é o funil, pois é quem estabelece o volume e a velocidade do escoamento. O produtor deve ter essa percepção e buscar ter mais de uma alternativa de indústria para poder decidir o melhor destino para sua produção.
E novamente, outro ponto importante que já mencionamos aqui nesta coluna é a questão da organização, seja por meio do associativismo, cooperativismo ou através de um sistema de integração.
Há, portanto, uma necessidade de o produtor não ficar isolado, pois ele sempre estará fragilizado nesse sentido. Inclusive, é desejável que o produtor tenha na sua vizinhança outros aquicultores, pois podem se unir e fazer compras coletivas de insumos com menor custo.
Estar em organização favorece, por exemplo, em caso de oscilação dos preços de insumos, e os segmentos que estão organizados em cooperativas absorvem e amortecem isso com muito mais eficiência e com impacto menor ao produtor cooperado. Quando o produtor está isolado, ele precisa absorver todo esse impacto de aumento de custos, o que reflete em sua rentabilidade.
Um exemplo disso é a aquisição de formas jovens, seja de alevinos (peixe), de pós-larvas (camarão) ou sementes (moluscos). O produtor deve possuir uma fonte fornecedora que garanta a qualidade desse material genético para que ele tenha uma resposta zootécnica eficiente. Caso contrário, ele estará administrando uma ração que não converterá no volume tecnicamente esperado, comprometendo o resultado financeiro com baixa rentabilidade.
Às vezes, o produtor está com poder aquisitivo baixo, com recursos de custeio insuficientes, o que o leva a buscar fornecedores de formas jovens com um preço de mercado mais baixo. No entanto, ele não tem garantia da qualidade do que está adquirindo, aumentando o risco de adquirir material que resultará em baixa produtividade e má conversão, exigindo mais ração para converter em carne e obter a biomassa necessária para ser processada e comercializada.
Outro cuidado importante é com a logística de deslocamento desses insumos, considerando a distância das fábricas de ração, pois isso influencia no preço do frete e nos custos da ração até a propriedade. Além disso, é crucial considerar a saída dessa matéria-prima para o setor industrial de processamento do pescado.
O ideal se o empreendimento estiver localizado próximo às fábricas de ração, às indústrias de processamento e ao mercado consumidor. Encontrar esse equilíbrio logístico é fundamental para que o produtor seja o mais eficiente e competitivo possível, garantindo a continuidade do seu negócio.
Ampliação nos Estados das ações para benefício ao produtor
Este trabalho de orientação econômica ao produtor ainda são iniciativas tímidas, apenas alguns Estados, em seus respectivos órgãos de extensão, mas que precisam ampliar para todos os Estados da Federação. Inclusive, devido à gravidade socioeconômica desta situação no meio rural, requer um posicionamento dos Governantes para redefinir como prioridade esta ação, e assim ser inserido nas políticas públicas do Estado.
Desejo que os órgãos de Extensão Rural que ainda não incluíram este plano de capacitação ao produtor sobre “como gerir o seu negócio no campo” possam se motivar e introduzir este avanço no meio rural, e assim evitar a continuidade do êxodo rural em seu estado.
Que tais exemplos sejam uma sinalização motivadora aos outros Estados, para que todos os órgãos de extensão tenham uma ação efetiva nesse aspecto.
Este texto é mais uma tentativa para servir de reflexão aos produtores, aos gestores públicos, aos técnicos que atuam diretamente no campo, que permita capacitar os produtores para serem mais eficientes, e estes estarem conscientes da importância de gerenciar melhor o seu negócio, e assim teremos um cenário mais promissor para quem está no campo produzindo.
Afinal, “Planejar e organizar a vida financeira do produtor é um desafio e uma prioridade para a sobrevivência do homem no campo. É uma responsabilidade de todos nós, e certamente com as nossas atitudes podemos mudar o destino do meio rural. A sociedade e o consumidor de alimentos agradecem.”