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    Tratamento e reuso de água na aquicultura

    Estou muito satisfeita em fazer parte do time Aquaculture Brasil para conversar com vocês leitores e poder compartilhar um pouquinho do meu conhecimento e da minha paixão em estudar sobre processos de tratamento de águas residuárias aquícolas.

    Esta coluna será o nosso espaço de comunicação e desejo muito receber o feedback de vocês para trazer os temas de interesse da aquicultura, no que tange aos desafios que temos em utilizar esse insumo maravilhoso para produzir organismos aquáticos. E começaremos bem por aí… a água é um insumo na lista de demandas quando pensamos em produzir organismos aquáticos. Quando ela está presente em abundância e qualidade, um universo de possibilidades se abre para nós. Mas, e quando ela não está? O que fazemos? Como fazemos para olhar para essa água e pensar em soluções que viabilizem a sua utilização? É sobre isso que falaremos aqui ao longo das novas edições. Principalmente no que tange geração de efluentes, ou melhor, águas residuárias e como a devolvemos ou não para o ambiente natural. Vamos lá?

    Para começar quero me apresentar melhor… Gosto de me definir como uma profissional apaixonada sobre processos e operação unitárias de tratamento de águas residuárias. Sim, já compliquei um pouquinho as coisas, eu sei. Mas, é bem simples, vocês perceberão…

    O conceito de processos e operações unitárias é definido como os métodos de tratamento no qual a água residuária será submetida para recuperar a sua qualidade. Eles podem ser compostos por operações físicas unitárias (ex.: gradeamento, sedimentação, flotação, filtração), processos químicos unitários (ex.: precipitação, adsorção, desinfecção) ou processos biológicos unitários (ex.: remoção da matéria orgânica carbonácea, nitrificação, desnitrificação). No entanto, por muitas vezes esses processos e métodos são utilizados intercambiadamente, ou seja, podem ocorrer de forma simultânea numa mesma unidade de tratamento. (Metcalf & Eddy, 1991)

    Logo, desde muito cedo na faculdade de engenharia civil meus olhos brilhavam sempre que o assunto era a água, suas belezas e desafios. Assim, fui me destacando nas matérias de hidrologia, hidráulica, saneamento básico, projetos de instalações hidro-sanitárias, projetos de estações de tratamento de efluentes, e por aí foi. Busquei conhecimentos complementares em hidrologia e hidráulica ao fazer iniciação científica com o meu grande mestre Dr. Adilson Pinheiro (FURB-Blumenau-SC). Após a formatura, o desejo de aprender mais e lecionar bateu forte e fui fazer mestrado e doutorado com meus outros grandes mestres Dr. Eugenio Foresti e Dr. Marcelo Zaiat (ambos da USP de São Carlos-SP) estudando processos anaeróbios de tratamento de águas residuárias. Inicialmente iria trabalhar com tratamento de substâncias recalcitrantes (de difícil degradação) como os derivados do petróleo (BTEX – Benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos). Mas a vida é maravilhosa e ao me descobrir grávida do primeiro filho, mudei de projeto para proteger a ele e a mim dos riscos envolvidos. Então trabalhamos com águas residuárias domésticas. Antes mesmo de concluir o doutorado já estava trabalhando no SENAI-CIC de Curitiba-PR, com ensino e assessoria técnica para empresas do setor industrial da cidade, no qual oferecíamos soluções em tratabilidade de efluentes industriais. Mais tarde, entrei para o time de colaboradores da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento em Florianópolis – SC, no qual desempenhei a função de engenheira de gestão de desenvolvimento operacional. Concomitante a isso, dava aulas em universidade particular e me preparava para realizar meu grande sonho… ser professora universitária da UFSC. Em 2009 essa meta se concretizou, juntamente com a chegada da minha filha. Trabalhar no Departamento de Aquicultura da UFSC em Florianópolis foi e continua sendo uma fonte de inspiração para tudo o que podemos fazer para aproveitar esse bem tão maravilhoso que é a água… seja ela em que estado for. A água nos desafia diariamente. Costumo dizer em sala de aula que ela é muito mais esperta que a gente.

    Mas como lidar com a água em aquicultura? Ora, vocês sabem muito bem isso. Temos tantos dependes que ficaríamos aqui anos falando do assunto. Ao longo das edições da coluna quero abordar com vocês um passo a passo e estabelecer uma linha de pensamento para unirmos nosso desejo de produzir organismos aquáticos com sustentabilidade, ou seja, usar a água e devolvê-la para a natureza igual ou melhor do que quando a captamos dos ambientes naturais como rios, lagos e mares.

    A primeira coisa a pensar é… onde está localizada a fazenda aquícola. Como assim Katt? Bem, a localização da fazenda diz muito sobre a água que teremos. A partir dela, devemos verificar a qual bacia hidrográfica ela pertence, qual é o corpo d’água disponível (podem ser de vários tipos como córrego, rio, lago, aquífero, mar, estuário etc.), quais são os usos legais permitidos e quais são os usos efetivos, ou seja, quais são as empresas, indústrias e cidades que estão a montante da captação de água e quais são as que estão a jusante. Além disso, devemos verificar a legislação aplicada a aquela propriedade. Sabemos que os estados e municípios podem legislar sobre seu território de modo e estabelecer os critérios para usos das águas. E ao longo das edições traremos esse assunto por aqui também.

    Para tratarmos a água temos que identificar seu perfil quali-quantitativo. O que isto significa? O perfil ou aspecto qualitativo diz respeito aos parâmetros de qualidade da água residuária como pH, temperatura, alcalinidade, matéria orgânica medida como DBO (ou DQO, COT, etc), série de sólidos, série nitrogenada, série fosfatada, metais, microrganismos. Enfim, uma série de parâmetros físico, químicos e biológicos. Essa avaliação poderá ser simplificada e menos onerosa para o produtor quando avaliamos os sistemas de cultivos e os POPs (procedimentos operacionais padrão ou manejo como é mais conhecido) envolvidos. Os resultados obtidos nestas análises estão diretamente ligados ao uso dessa água. Ao lecionar sobre o assunto, faço questão de frisar que só poderemos fazer inferências sobre as possibilidades de tratamento se conhecermos o quê queremos ou teremos que remover, reduzir ou eliminar dessa água.

    O outro perfil ou aspecto a se identificar é o quantitativo. Significa dizer que temos que mensurar e monitorar os volumes e consequentemente as vazões de águas residuárias que são produzidas. Uma coisa é aplicarmos processos unitários para tratarmos 1000 litros de água e outra completamente diferente é 1.000.000 litros ou mais, ou ainda esse volume ser produzido por dia, hora ou segundo. Neste caso muda tudo, a área ocupada, os equipamentos necessários, o recurso financeiro demandado, a equipe de mão de obra qualificada e assim por diante.

    Após essa análise, temos que fazer o comparativo com a legislação vigente. Aí entra os conhecimentos sobre o que é padrão de lançamento de efluentes e o que é padrão de enquadramento de corpo receptor. O fato é que perante a lei teremos que tratar as águas residuárias para lançar dentro do padrão e não alterar o enquadramento legal daquele corpo receptor. Só isto já provoca uma série de dúvidas ao produtor e um profissional qualificado poderá orientar de maneira a não onerar o custo de produção ou pelo menos onerar o mínimo possível. Afinal, o negócio tem que ser viável financeiramente.

    Nas próximas edições vou descrever os processos de tratamento envolvidos. Vamos conversar sobre remoções físicas, químicas e biológicas de compostos da água, avaliado e dando exemplos de cada caso.

    Espero vocês!

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