Comumente, as infecções bacterianas são tratadas através da utilização de alimento suplementado com antibiótico. Estes medicamentos podem ser classificados em bactericidas, se matarem as células bacterianas, ou bacteriostáticos, se apenas prevenirem o crescimento bacteriano (como a oxitetraciclina e o florfenicol). É importante ainda se certificar de utilizar medicamentos registrados para uso em aquicultura em caso de surtos, que idealmente devem ser diagnosticados, atentando ainda a respeitar dosagens e período de tratamento visando assegurar a segurança do produto final para o consumo humano, sustentabilidade ambiental e consequentemente sustentabilidade da produção.
A resistência aos antimicrobianos (RAM) atualmente é um dos maiores desafios para a saúde pública, os especialistas têm trabalhado a abordagem de Saúde Única que considera a saúde humana, animal e ambiental. Quanto maior a frequência de uso de antibióticos maior será a probabilidade do desenvolvimento de bactérias resistentes, essa não é uma ferramenta a ser utilizada de forma rotineira nem preventiva.
Algumas bactérias são naturalmente resistentes, e outras podem adquirir resistência determinados antibióticos por meio da troca de material genético com cepas resistentes ou mutação genética. Os genes de resistência podem ser herdados pelas gerações seguintes e até mesmo compartilhado com outras espécies de bactérias.
O uso de antibióticos na ausência de uma infecção bacteriana contribui diretamente para o surgimento de bactérias resistentes que podem se disseminar de maneira rápida, inclusive, de animais para as pessoas. O monitoramento do uso de medicamentos na aquicultura é uma realidade a qual teremos que nos adaptar, assim como a diminuição do uso de antimicrobianos em produção animal tem sido uma tendência visando redução do risco de consumo bactérias resistentes e exposição a antibióticos via consumo produtos alimentares de origem animal, e infecção por bactérias resistentes através de contato com animais de produção.
Em visita recente ao Chile pude conhecer produções de formas jovens e engorda de salmão e participar do congresso Sustainable Management of Bacterial Disease in Aquaculture (Gestão Sustentável de Doenças Bacterianas na Aquicultura: uma Abordagem Interdisciplinar), que ocorreu em Puerto Varas – Chile, e abordou os desafios de sustentabilidade associados ao uso de antibióticos na aquicultura. Para além das discussões sobre segurança alimentar, ressaltar os riscos do uso indiscriminado de antimicrobianos e da RAM, e a problemática do impacto ambiental gerado, devemos lembrar ainda que há ainda após exposição a antimicrobianos geralmente percebemos redução do desempenho zootécnico ou sobrevivências abaixo do esperado, e tudo isso tem um preço que na maioria das vezes não é contabilizado.
Quanto o produtor está deixando de ganhar? Não devemos normalizar as perdas. Sobrevivências de fases iniciais entre 60-80% não são um resultado eficiente, por exemplo, é só fazer a conta do que estamos deixando de ganhar durante todo o ciclo ou mesmo comparar com outras culturas como a salmonicultura ou mesmo a avicultura nas mesmas fases de produção. A problemática se acentua se considerarmos a imprevisibilidade de produção devido a resultados aleatórios de sobrevivência, falhas na imunização quando os animais já apresentarem um sistema imune debilitado ou infecções recorrentes com problemas virais associados.
No caso das doenças de origem bacterianas a prevenção sempre será o melhor remédio! As bactérias não tiram férias, proteja seus peixes ou camarões de forma preventiva com um bom programa de saúde. O uso de aditivos alimentares para prevenir a adesão de bactérias e a formação de biofilme e reforçar o sistema imune são uma ferramenta e tanto. Sem essa “capa” protetora as bactérias patogênicas tornam-se suscetíveis às células imunes, reduzindo surtos e a necessidade do uso de antibióticos. Aliado a boas práticas de manejo (aqui acho pertinente enfatizar limpeza e desinfecção de estruturas de produção) e imunização dos peixes, resultarão em maior rentabilidade na produção.
Leitura sugerida:
- Biofilme e inovação
- Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos (PAN-BR)
- Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos na Agropecuária (PAN-BR AGRO)
- Fish pathogen bacteria: Adhesion, parameters influencing virulence and interaction with host cells
- Biofilm is associated with chronic streptococcal meningoencephalitis in fish
- Métodos de avaliação do acúmulo e da depuração de drogas veterinárias de interesse na aquicultura – EMBRAPA