Era início de 2020 quando fomos alertados sobre a possibilidade de que passaríamos a viver em um “novo normal”. A pandemia de Covid-19 se consolidava e, radicalmente, ia mudando a forma como nós nos organizávamos, social e economicamente. Naquele momento, o termo “novo normal” passou a ser usado de forma generalizada, indicando que a única alternativa diante daquela realidade adversa era a necessidade de adaptação. De lá para cá, a forma como trabalhamos, consumimos, estudamos e nos relacionamos, por exemplo, foi se moldando a esse tal de “novo normal”. Muitas dessas adaptações se tornaram hábitos adquiridos, abrindo espaço para inovações. É o caso do avanço tecnológico.
A tecnologia avançou a passos tão largos nos últimos anos que o uso de ferramentas antes imaginadas como produtos de ficção científica, como por exemplo os robôs e as inteligências artificiais, têm ganhado o nosso dia a dia e se apresentado como soluções para diversos setores produtivos. É mais um “novo normal” exigindo suas adaptações. Atentas à esta demanda de mercado, as últimas feiras do setor aquícola já debateram esse tema com propriedade e discutiram não só como essas tecnologias podem ser aliadas à produção, mas também os cuidados que devem ser tomados. Fazem bem ao darem ênfase ao tema, pois é preciso conhecer para se preparar.
Há um outro tema que deve impactar a sociedade e seus sistemas produtivos, especialmente os sistemas do agronegócio: as mudanças climáticas. Você já deve ter ouvido falar que os principais efeitos das mudanças climáticas são o aumento na frequência e na intensidade de eventos climáticos extremos como as tempestades, as inundações, as secas prolongadas, as ondas de calor, etc. Eventos que antes eram tidos como raros na escala de tempo da humanidade, agora estão cada vez mais presentes. Apenas em 2024, tivemos as inundações no sul do país e as ondas de incêndios e secas nas regiões norte, sudeste e centro-oeste. Houve um registro recorde de furações no Atlântico norte, inundações no deserto do Saara e em diversos países da Europa. As mudanças climáticas também já são consideradas um “novo normal”, mas têm ganhado menos holofote nas discussões do mundo Aqua.
Mas afinal de contas, por que o setor aquícola deveria se preocupar com esse assunto? Os eventos climáticos extremos podem impactar a atividade produtiva em diversos aspectos. Um período de seca prolongado, por exemplo, pode diminuir consideravelmente a disponibilidade hídrica, principalmente em reservatórios, o que pode alterar a qualidade da água e causar mortalidade. Ondas de calor podem afetar a saúde dos animais, aumentando a probabilidade do surgimento de doenças infecciosas. Períodos de muita chuva podem prejudicar a infraestrutura, danificando viveiros e tanques-rede, aumentando a probabilidade de escape. São muitos os riscos que devem ser prevenidos e mitigados.
No entanto, se houver estratégia diante deste cenário, a aquicultura pode inovar e apresentar vantagens em comparação à outras produções de proteína animal. A diversidade de espécies e de sistemas produtivos nos permite produzir em diferentes ambientes. Além disso, a aquicultura possui uma pegada de carbono menor quando comparada às outras proteínas. Precisamos discutir e implementar um plano de adaptação às mudanças climáticas para o setor aquícola, coordenado em diferentes níveis e com financiamento para pesquisa e extensão rural. Isso nos permitiria construir resiliência em um cenário de possíveis adversidades.
Outras culturas agrícolas já têm se adiantado no desenvolvimento de estratégias de adaptação às mudanças climáticas. Programas de agricultura regenerativa, por exemplo, são cada vez mais comuns entre as gigantes da soja, do algodão e do trigo. No agronegócio, há investimento crescente em linhagens genéticas mais resistentes, em planos de recuperação do solo e em programas de redução de emissões de gases do efeito estufa. Estas iniciativas buscam captar programas de financiamento direcionados e atender novos mercados que são mais exigentes, o que serve de motor para impulsionar a inovação nesse tema.
E nós do mundo Aqua, como estamos nos preparando para esse “novo normal”?